Saturday, October 16, 2004

Sonhos, árvores e famílias

O alemão tinha morrido naquele mesmo dia. Sua morte coincidiu com o nascimento da aurora, como se o anúncio de uma nova primavera estivesse exposto, no céu, no clima, produzindo sorrisos e satisfações, envolvendo a todos.

Em torno de um grande ônibus se reunia uma numerosa família. Ouvia-se o burburinho de vozes como as folhas de uma árvore sopradas por um vento gentil e outros sons de objetos como malas, pacotes e presentes esbarrando uns nos outros, farfalhando como um som de fundo de uma bateria de jazz.

Se fosse posta uma câmera no céu, apontada para baixo, mesmo sem que víssemos os rostos e as expressões de cada um deles, perceberíamos que estavam felizes, pois, como uma sinfonia, era óbvia a harmonia, mesmo para ouvidos pouco treinados. Pois se há algo universal, sem dúvida é o sentido da beleza. Esse sentido de beleza se aprofundava além da superfície, era todo um conjunto que simplesmente parecia funcionar.

A casa tinha parede e teto, tinha varanda e dois andares, era uma casa comum, mas que chamava atenção por alguns motivos: tinha janelas muito amplas e portas gigantes, geralmente abertas, prontas para a luz dos dias, mas também para a escuridão que por vezes era irradiada.

Uma frondosa árvore crescia ao lado e quanto o vento resolvia soprar, ela batia os galhos numa das janelas. Um dos anciãos daquela família contava um dia ao neto que a árvore pedia para entrar na casa, pois não gostava de chuvas fortes. Porém ele não podia permitir, as folhas cairiam e sujariam o chão, além do mais, onde já se viu uma árvore que precisa de casa? Era uma árvore talvez medrosa, como um certo leão de uma outra história.

Era uma árvore distinta de todas as outras, a árvore medrosa era da família. Talvez fosse medrosa pois tinha quem a protegesse, talvez nem fosse medrosa, apenas um tanto tímida. De fato, nela foram amarrados balanços de crianças que eram na verdade pedaços de madeira. Ela tinha também tatuagens, eram corações com nomes, eram lembranças de pique esconde.

De quatro em quatro vezes por ano, ela estendia um tapete de folhas alaranjadas, com uma particularidade: elas caiam todas de uma só vez, exatamente no mesmo dia. Nesse dia fazia-se por tradição os casamentos dos membros da família com os membros de outras famílias, era talvez o último dia do outono prenunciando o frio de um inverno rigoroso. Os recém-casados eram forçados a passar por um certo período de reclusão, com dois possíveis efeitos decorrentes disso.

Dizia-se que a árvore tinha o dom de dizer a verdade. Ou o frio e a proximidade confirmavam os votos de matrimônio ou terminavam por quebrar o casamento. A árvore tinha o poder de afirmar se o amor seria realmente infinito enquanto durasse, de afirmar se era verdadeiro e se sobreviveria a um encontro entre duas pessoas.

Quando chegava a primavera, uma gama de novas cores chegava para aquela árvore. Ela era rica não só de verde, mas em variações dele, e em cores marrons, e em tons de terra, e em flores vermelhas e amarelas. À sombra da copa coberta fazia-se churrascos, encontros e rodas de violão. Mas o que de mais importante acontecia era um ritual. Com alguns galhos emprestados da árvore, que provia a todos, fazia-se uma grande fogueira. Aos poucos, chegariam pessoas e cada uma, à sua maneira, tomaria um lugar. Ergueriam taças e copos e canecas, pois tudo era permitido, numa festa que deixaria Baco surpreso, pois além de vinho, havia a cerveja e a aguardente, pois além de risos, haveria suspiros e pequenas e passageiras tristezas, pois além de amizades, floresceriam novos e insuspeitos romances. A fogueira era a metonímia do mundo, pois tudo era possível, cada um olhava por si mesmo mas ouvia com reverência ao outro, dividindo o que a humanidade parecia ter de mais humano.

Friday, October 08, 2004

Primavera

Um grito que não veio do escuro. Foda-se o escuro, isso é coisa de criança. Tudo bem, sou um tanto criança ainda, mas uma criança que sabe dizer: vai tomar no seu cu, desgraçado! Vá a merda com esse terninho de bosta que todo dia você coloca, foda-se o seu pentinho amarelinho que você passa cuspe pra ver se teu topete fica parado no mesmo lugar. Seu bosta de araque, com suas roupchas espertas de playboy e seus dizeres de merda. Quer legitimar o lucro, seu escravo dos infernos? Faça como queiras que eu estou pouco me fudendo. Que coisa poética né não? Vai pra sua fazenda, seu animal! E eu tou pouco me lixando pro cara que, contrário de você, levanta todo dia, toma a porra da cachaça no bar e vai bêbado da construção. Por mim, pode se jogar do topo! EU não acredito mais em você, seu Zé ninguém! Tão escravo, tão orgulhoso e tão desgraçado quando o engomadinho. Ninguém vai lutar por você. E os que acreditaram em você tão pouco se lixando! Se a tal revolução viesse, você seria transformado em alguma coisa útil pro mundo. Sim, você abandonaria seu mundo animal e seria forçado a pensar um pouco mais nas coisas? Começo a incomodar? Pois é, quer ser o dedo no seu olho, seu bosta. Mas não é a bosta que é o esterco e não é o esterco a base para a primavera? Pois é assim que penso em você, meu caro. Um improvável futuro na primavera.

Thursday, September 16, 2004

Minha Linda

A felicidade tem um sorriso lindo e quando solta os cabelos tudo pára para ver. É como se fosse a banda do chico buarque, concentrada numa única figura. É o Aleph do Borges em corpo feminino, o momento que concentra toda a atenção. Sei que as palavras não transmitem todo o sentimento, mas é algo como ver a alvorada de galáxias e ver o primeiro giro de um novo planeta, e ver a explosão de cem estrelas, ou entender, de uma só vez, o sentido de uma vida ou de várias se possível. A felicidade é como estar em todos os lugares, ao mesmo tempo em que não se está em lugar nenhum, pois na verdade, aquele que está presente em tudo flutua, flutua sobre o espelho d'água que é a vida incessante, que é do sangue, que é do corpo, que é do olhar pulsante, que é do começo e do fim, do A até o Z, de 0 até o que quer que seja o infinito. Estar inebriado é isso. Já disse Heráclito que o ser é movimento. Acredito nele. E prezo o deus dos caminhos, Hermes, pois ele trás a felicidade e ele não segue nem Apolo nem Dioniso, ele segue o caminho da humanidade, o caminho do coração.



Sunday, September 12, 2004

Janela da Alma

Quanto tempo a gente perde nesse mundo lotado de imagens e esquece o que realmente importa? Não somos nada sem nossos sentimentos, e são esses sentimentos que dão sentido ao mundo. Mas quanto mais eu vivo, mais percebo como a gente aceita as imagens que nos são oferecidas, os modelos prontos, a falta de ética e de valores desse mundo que vive se escondendo em um visual que se diz ser perfeito?

Pra que serve uma vida? Os niilistas dirão para nada. Os religiosos dirão: pra morrer e chegar em deus. Os espíritas dirão: pra evoluir. E o que eu digo?

A vida serve para que eu me aprofunde em mim mesmo, para que eu encontre no caminho o que realmente importa para mim, para que eu desenvolva um olhar interior, que apesar de ser meu, se constrói com o mundo a minha volta. Quando eu deixei de entender a simplicidade, de entender a beleza real do mundo, quando eu me agarrei com unhas e dentes nisso tudo que na verdade pouco me importa?

Prefiro ver o sorriso de uma moça meiga, de uma moça bonita aos meus olhos, ver o movimento simples de seu cabelo, passeando lentamente por seu rosto e imaginar o toque de sua pele contra minha mão, meus lábios! Ver o céu que de tão azul parece mais parece um tecido, decorado com a falta de padrões das nuvens. Quero ver o desenho que uma música cria em minha mente, o que ele evoca por entre seus silêncios, por entre suas notas, a conversa dos instrumentos, ver a fogueira formada por uma roda de grandes amigos. Ver os problemas da minha vida como oportunidades de desenvolver novas formas de enxergar. Tudo realmente vale a pena se a alma não é pequena. Estou perdido, um tanto extasiado, levemente enlouquecido, talvez bêbado de um sentimento que se reforça. Eu danço pelo ar sem saber o local de meu pouso, sem sequer imaginar que caminho se descortina na minha rota. Quero sentir o calor do sol, tão simples quando o som do vento que de longe parece mar. Quero muito mais do que estão me oferecendo. Quero absolutamente todas as coisas que não podem me ser tiradas, coisas que não estão a venda, coisas invisíveis para os enfiados na caverna.

Se o mundo me oferece sombras, eu cuspo verde na cara dele! Se o mundo me oferece cinzas, eu saio em busca do cigarro!

Liberdade não é zona

Por que quando a gente fala em liberdade alguém vem com aquela noção infantil de que liberdade é fazer o que se quer e não responder por isso?

Liberdade pra mim é quase o contrário. Liberdade tem muito a ver com maturidade. Ser livre quer dizer fazer as próprias escolhas e responder por tudo que vier dessa escolha. Se eu resolver tatuar meu corpo todo e virar o Hulk, meu direito! Foda-se que houvesse alguma pressão social sobre mim! Por ter escolhido me tatuar todo, eu devo responder por tudo que vem disso e aguentar o tranco.

Portanto, liberdade não funciona pra quem não dá conta de viver pelo próprio nariz. Acho que essa visão irresponsável e idiota de liberdade funciona pro reino do faz de conta, funciona no desenho dos Ursinhos Carinhosos, funciona pra essa pseudo-realidade que a MTV tenta empurrar pra esse tanto de adolescente meio acéfalo que anda pelo mundo.

Funciona se você acredita que a maior liberdade que você pode ter tem a ver com suas posses, com o dinheiro que você possui. Pra mim, se você quer acima de tudo um carro, se isso representa sua liberdade, você é um idiota superficial. Ser livre tem a ver com se comprometer com o próprio desejo, e não assumir o que tem mandam aceitar como o máximo.

Liberdade começa por dentro, começa por se auto-conhecer, começa por ter bom senso, por saber pesar suas próprias capacidades, por entender de uma vez por todas que o que eu fizer vai acarretar uma consequência. O ponto é que ser livre tem a ver com aguentar o tranco de ser livre.




Saturday, September 11, 2004

Linda

Caminhava por uma rua deserta, observando a forma como as folhas costumam cair das árvores. Talvez era a luz, talvez era o sentimento que prenunciava algo de bom para acontecer. O fato é que me pareciam mais felizes as pessoas, os cães ladravam não por ver ladrões correndo, mas por reconhecerem à distância seus iguais, seus amigos humanos. E os carros, passando lentamente, deixavam refletir em suas janelas o azul do céu e o efeito impressionista que as nuvens costumam impor ao que está um pouco abaixo delas. Andando calmamente, virei à direita, caminhei por uns momentos distraído, olhando para o chão passando pelos meus pés. Quando levantei a cabeça, antes que as palavras me chegassem, vi um descortinamento. Era um sorriso de boas vindas, decorando todo um rosto límpido, enquanto via cabelos dourados dançando levemente e tocando o rosto dela. E ela era linda, assim bem eu poderia dizer. Nesses momentos em que tudo deixa de ser importante e só um ponto vira o centro do universo. Esse ponto era ela! E eu estava feliz.

Monday, September 06, 2004

Paint it Black - The Rolling Stones

I see a red door and I want it painted black
No colors anymore I want them to turn black
I see the girls walk by dressed in their summer clothes
I have to turn my head until my darkness goes

I see a line of cars and they're all painted black
With flowers and my love, both never to come back
I see people turn their heads and quickly look away
Like a newborn baby it just happens ev'ryday

I look inside myself and see my heart is black
I see my red door and it has been painted black
Maybe then I'll fade away and not have to face the facts
It's not easy facing up when your whole world is black

No more will my green sea go turn a deeper blue
I could not forsee this thing happening to you
If I look hard enough into the setting sun
My love will laugh with me before the morning comes

I see a red door and I want it painted black
No colors anymore I want them to turn black
I see the girls walk by dressed in their summer clothes
I have to turn my head until my darkness goes

Hmm, hmm, hmm...
I wanna see it painted black, painted black
Black as night, black as coal
I wanna see the sun, blotted out from the sky
I wanna see it painted, painted, painted, painted black
Yeah

Essa é simplesmente uma das melhores músicas que eu já ouvi. Uma letra absolutamente fantástica, muito simples, mas que diz coisa pra caramba. É dos Rolling Stones, de um tempo em que os velhos não eram ainda velhos e sabiam o que era rock de verdade. Pra mim essa música adianta bastante a música punk, pois a batida é rápida e direta, coisa que na época ninguém estava realmente pensando. Segue a letra...

Sunday, September 05, 2004

O Cruzamento

A Avenida do Contorno se aproximava, com sua escuridão quebrada de forma sutil pelas luzes amareladas dos postes. Já reconhecia a escola e encontrava uma decisão. Iria pela esquerda, seguindo o curso dos fins de noite. Minha casa, de mármore branco, boas-noites ao porteiro e um resto de música no carro. A esquerda era ainda o futuro e um cruzamento seria mais que o suficiente para mudar tudo. De longe, eu via os carros acelerados pela gravidade da descida, com suas luzes vermelhas pegando fogo pela noite.

Meu caminho era até então sozinho, por uma rua bem iluminada, tão conhecida mas ao mesmo tempo tão misteriosa. Por ela passavam prédios e se moviam vidas de pessoas. Das janelas de suas casas eu passava e o som de meu movimento seria depois anulado pelo hábito. O marulho de automóveis e a saudade serrana de um mar que nunca existira. Eu passava por eles, despercebido, enquanto os anos se agravavam em suas peles e expressões. Minha transitoriedade não tinha importância.

O que significaria um cruzamento na vida deles, nesse momento? Nada. Mais um barulho, mais alto, como uma onda mais furiosa, mais carregada de suas águas. Para mim, o cruzamento era a diferença entre a vida e a morte. Mais carros passavam e eu não tinha intenção alguma de frear, de impedir meu avanço. O cruzamento era a inevitabilidade se aproximando, cada vez mais rápida. Eu seria lançado à curva e meu tempo poderia acabar ali ou ser um pouco mais estendido.

Nenhuma cigana me havia lido o destino. Eu não acreditava no destino. Tinha fé nos fatos. O cruzamento corria em minha direção, enquanto a terra, e a sua partícula menor, a rua, me abandonavam. Independente do que eu especulasse, independente do modelo do carro, da marcha, da velocidade. Independente de todas as disciplinas de vida por mim seguidas até ali, o que existia era o cruzamento. O passado não existia. As memórias eram apenas a ilusão de uma mente e seu desejo infantil de dominar o tempo.

Importava o momento. A plenitude. Aquela rua me lembrava de todas as minhas histórias de morte, de esquecimento. Lembrava-me da humanidade assassinada, da desgraça, do romantismo mórbido. Lembrava-me de todos os meus personagens criados, com suas vidas que nunca duravam mais que duas páginas. Eu era agora o personagem principal e em minhas mãos a decisão de viver ou matar-me.

Não morreria hoje. Entrei na Contorno e virei à esquerda, em direção à casa. O cruzamento, deixado para trás, era uma ilusão engendrada pelo silêncio e pela escuridão. Eu me lembrei e acariciei a memória de um sentimento profundo. Via todas aquelas pessoas que sorriam. Todos aqueles que me olhavam com algum tipo de amor. Eram as pessoas que criavam os momentos mais simples e mais significativos da vida de um homem.

Saturday, September 04, 2004

Humor

Pessoas de humor inconstante, um de teus irmãos vos convoca! Eu me pergunto, isso é patológico ou é um aspecto de algumas personalidades? Do céu ao inferno voltando ao céu sem nunca passar pelo purgatório em alguns minutos. Chega a ser engraçado. Fico imaginando meu rosto acelerado no tempo, todas as mudanças compactadas em alguns segundos. Fica até parecendo aquele clipe do Michael Jackson, Black or White, com aquelas pessoas se transformando em outras pessoas utilizando aquele efeito de morphing.

Ando instrospectivo, pensando nos meus estados e chegando à conclusão que pensar muitas vezes mais atrapalha que ajuda. Percebi que pensar rápido é uma desvantagem, em certas ocasiões. De 0 a 100 pensamentos em dois segundos, acho que deve ser mais rápido que uma Ferrari F40, ou até que o modelo novo, a F50.

Já acreditei que eu era um monte de palavras empilhadas, um truque de linguagem ou coisa que o valha. Já pensei que se eu utilizasse as palavras corretas, eu poderia alcançar o estado de mudança constante que eu almejava. Só que fui ficando aos poucos mais velho, valorizando um pouco mais certas noções de segurança, certas idéias de futuro. Hoje sei, não sou um monte de palavras, não sou um pensamento organizado pela linguagem, sou o inverso disso. Sou humano como todo mundo, e a linguagem funciona em função de algo que a transcende. Fico mais e mais confuso.


The Who

Quando estou alternando entre estados de tristeza e raiva, tenho um pequeno ritual, que inevitavelmente funciona. Tenho um cd do The Who bem barulhento. Barulhento na guitarra, no baixo, na bateria e principalmente nos gritos do vocalista. Li outro dia que o único jeito de alguém de touro se curar de alguma coisa é cantando alto, a plenos pulmões. Enquanto dentro da minha cabeça estou realmente gritando, querendo agarrar o céu com minhas mãos e rasgá-lo em mil pedaços, meus dedos disparam essas letras que estão aqui na tela. Enquanto ouço, "Tommy, can you hear me?" eu me pergunto se alguém pode me ouvir. Mas ninguém pode me ouvir, nem que a música estivesse mais alta do que está nesse momento. "See me, feel me, touch me, heal me!" poderia ser meu canto agora. Mas ela não me ouve e acho que hoje foi o fim de algo que nem começou. Algo que nunca existiu pode terminar? Mas existiu em cada sorriso dela, em cada palavra, em cada pequena coisa que compõe momentos felizes. E é adeus agora! Ela continuará sendo minha vizinha, a mesma que por anos eu vi andando pela rua, a mesma que sempre me cumprimentou. A distância, depois que a gente se aproxima de alguém em seguida se afastando dessa pessoa, é expandida. Metros da visão e kilômetros de qualquer sentimento. Me pergunto se existe alguma mágoa. Acabei de corrigir um ato falho. No lugar de mágoa, escrevi magia. Será que existe ainda alguma magia, então eu me pergunto.

Thursday, September 02, 2004

Conhecendo gente

Coisa engraçada é conhecer gente nova. Acho que cada pessoa deve ter lá o seu jeito de fazer isso. Parei outro dia pra lembrar como tinha conhecido alguns de meus amigos e amigas e digo, não lembrei a maioria. Ontem conversei com uma pessoa que nunca tinha falado na minha vida. E foi na cara de pau. Sem perceber eu entrei no assunto entre duas pessoas, na cara dura, puxando um gancho. Pensando pra trás reconheci algo na minha personalidade que não me era dado a conhecer. Não sei se arrumei mais amigos ou mais inimizades com esse meu jeito de fazer as coisas. É, sempre fui direto, e isso é complicado. Sempre fui com vontade até demais quando queria alguma coisa. Acho que é comportamento de gente meio lobo solitário. A gente simplesmente tem que se virar e sem seguir esses impulsos de se jogar nas coisas, sobra um animal meio triste, enfraquecido. Acho até que estou num desses dias, como se estivesse inteiramente desconectado desses meus instintos. Como se estivesse cego. Nesses dias fico completamente sem rumo.

Tuesday, August 31, 2004

Tolerância zero

Na minha rua tem um cara, de uns 90 anos, com jeito de personagem principal daqueles causos contados no interior. Ele ainda está lúcido e tem um senso de humor meio sacana. Acho engraçadíssimo quando vem um palerma mais novo tentando tratá-lo feito criança e leva uma na cabeça.

Então este senhor de 90 anos encontra um outro senhor, de uns 60 anos, do qual ele não gosta de jeito nenhum. O de 60 inicia a conversa:

- Nossa, mas o senhor está sumido! Onde o senhor estava? - gritando a plenos pulmões, pois o outro está meio surdo...

- Fui em Roma! Visitar o Papa!

- Ah é? Que ótimo! E como ele está?

O de 90 olhou para o de 60, incrédulo. Levantou a mão, jogando-a para trás num sinal de irritação, resmungou um "ah! eu vou embora!" virou-se e foi andando, meio apressado, largando o outro pra trás, que a este ponto estava um tanto quanto atônito.






Sunday, August 29, 2004

começando

É exatamente o que está no título! Preciso de uma desculpa para escrever e um blog me pareceu uma boa idéia. Fui daqueles que apesar de não ter um caderno próprio para escrever, sempre guardava a última matéria das 12 para pequenos textos, idéias e poemas mal riscados. Geralmente essa matéria crescia e ia aos poucos invadindo as outras. Daí onde estariam contas matemáticas, exercícios de gramática e mapas de geografia - feios a valer, desenhar nunca foi a minha - apareciam umas linhas, umas palavras.

Quantos e quantos não tiveram alguma vontade e mesmo potencial pra seguir escrevendo e pararam no meio do caminho? Estou a beira de me tornar um desses, sinto uma dificuldade estranha de escrever qualquer coisa. Mas aparentemente, por vaidade ou gosto mesmo, reluto em abandonar isso. Quero voltar aos livros, quero voltar a escrever qualquer coisa.

Quem trombar com esse blog, não espere coerência, nem um diário, nem confissões, nem profundos pensamentos. Vou deliberadamente escrevendo.