Monday, November 28, 2005

Saturday, November 26, 2005

O Velho - parte 2

A maior das minhas descobertas veio lá pela época em que eu contava quase um quarto de século. Nascemos e chegamos até uma certa idade com certas inocências e reservas que não se pode entender de onde vieram. Desde sempre, ouvimos contos e estórias infantis com meninas e mulheres nobres, cheias de todas as virtudes cristãs que se pode requerer delas, inclusive aquele quê indispensável de tédio.

A descoberta que eu fiz me colocou em pé de guerra com donas de casa e um punhado de feministas ai pelo mundo. Perceberam que a mulher, dentro das regras morais, tem sempre atestado de inocência e o homem atestado de cordeiro em pele de lobo? O que não disseram é que a mulher, nessa nossa américa latina, pode ser mais machista que um homem.

Já tentaram por vezes me convencer que o sexo, num casamento, é o ganho que o homem tem em compensação pelos anos de união. Também já me mostraram que o sexo é instrumento de repressão usado pelos homens, contra as mulheres. Todos os dizeres que mostram a moralidade e o vitral da aparência.

Descobri, há muitos anos passados, que Branca de Neve, Cinderela e Rapunzel não queriam exatamente beijos castos de seus respectivos príncipes, de fardas e armaduras reluzentes. Queriam de seus cavaleiros a virilidade dos cavalos que eles montavam assim como a chave que abriria seus belos cintos de castidade.

Percebi assim que a igualdade entre homens e mulheres está no sexo e no gosto sensual por ele. O desejo sempre foi o mesmo e a virtude, longe de se fechar num claustro, pode muito bem ser encontrado num bordel. É, aprendi a achar virtude inclusive na zona.

Me digam, o que pode haver de melhor que as virtudes, apimentadas com um bom grau de sexualidade?

(continua...)

Mitologia do Amor

O livro "Para Viver os Mitos" de Joseph Campbell, estudioso de mitologia comparada, é o resultado de um grupo de palestras dadas entre o final dos anos 60 e o início dos anos 70 sobre o assunto. Um dos capítulos do livro se chama "A Mitologia do Amor", em que ele fala da visão do amor em várias culturas.

Lá pelo meio do texto, ele lança mão de um poema, escrito por Trovadores lá pelo ano 1.200, época em que se passou a escrever no ocidente sobre o amor individual e carnal, entre um homem e uma mulher, à parte de qualquer moralidade ou obrigação social.

Um pouco do que se vê é que o amor, no ocidente e no oriente, tem um tanto de contravenção. O amor do cavaleiro pode ser por uma dama casada. O amor da oriental, em seu grau mais superior, a colocará contra o resto da sociedade. A gente se sente mesmo meio criminoso quando apaixonado.

"Assim, pelos olhos o amor atinge o coração;
Pois os olhos são as sentinelas do coração
E os olhos fazem o reconhecimento
do que agradaria ao coração possuir.
E quando eles estão em pleno acordo
E firmes, todos os três, no uno se elucidam,
E então, nasce o amor perfeito
Daquilo que os olhos tornaram bem-vindo ao coração.
De nenhum outro modo pode o amor nascer ou ter início
Senão por esse nascimento e esse início movido por inclinação."

Troca de Camisas

Certas amizades se constroem de forma imediata. Tal como um amor que se tem por uma mulher, que entra pelos olhos e toma casa no coração, a amizade, a escolha de um irmão que acontece pela vida, e não pelo sangue, também assim acontece. Num olhar, uma identificação que dispensa as palavras. Os budistas apreciam o silêncio. O amigo se torna aquele com quem se pode partilhar não só os discursos, mas também as horas em que falta a palavra.

Certas horas a gente percebe como somos ainda seres ligados à mitologia. Nosso tempo é mitológico e certos acontecimentos, que se tornam importantes, por vezes são marcados por um ritual. Ontem eu assistia um filme, “Gerônimo” sobre o último líder Apache a resistir, até que se fizesse a linha ferroviária americana. Numa cena, Gerônimo e o Tenente Gatewood, um admirador dos índios, trocam objetos. Gerônimo pede os binóculos do tenente, presente de oficiais subalternos que o admiravam, e Gatewood ganha uma pequena pedra azul, com um coração entalhado. “Essa pedra azul tem um grande valor para mim.” diz o guerreiro Apache.

Na visão de nossa sociedade, ao menos a visão vigente, que tem Ford como deus-ancestral e a produtividade como valor máximo, Gatewood seria chamado de idiota. O binóculo, monetariamente, vale mais que a pedra azul. Mas certas coisas perduram, certas coisas autênticas, indestrutíveis e belas, à parte das mentiras comerciais.

Na semana anterior, quase 200 anos depois da cena descrita no filme, eu revivia algo semelhante. Naquela noite, uma festa de noivado da minha prima, uma pessoa que ultrapassa a palavra “admirável”, eu vestia uma camisa que provavelmente era a minha preferida. Já era fim de festa e sobrava somente eu, André, e o marido da minha prima, Alexandre. Ele vestia uma camisa também de valor para ele, fui descobrir mais tarde que era a blusa de seu casamento.

Posso dizer que no jeito calmo e leve de dizer as coisas, percebi o que é a força de ser bom, que mora num tipo de uma fragilidade que tem uma beleza de poesia, daquelas que falam sobre a vivência de um dia legal. Eu quis escrever outro dia: há força no bem, há fragilidade no mal. há fragilidade no bem, há força no mal.

Sem cálculos, de uma forma muito natural, como tudo que é bacana deve ser, combinamos trocar de camisas. Assim fizemos e vi que a camisa trocada não me servia. Então, naquele momento eu compreendi o que agora teorizo: o ritual, os mitos, não tem valor de troca, nem mesmo carecem de valor de uso, o que conta é o sentido ancestral e perene que ele evoca.

Ali, o que importava era o significado da ação e o valor que cada camisa tinha para seu dono original. No dia seguinte, vi que minha prima não gostou muito da troca, o que veio a se somar na seguinte idéia. Aquela troca só tem sentido se cada um tivesse entregando ao outro algo de valor, o que envolve até mesmo negar-se o apego. A troca vira um voto de confiança.

A vida, antes de dar um sentido para refletir, nos oferece eventos carregados de significados, experiências que tem em si um quê de mitologia e de arquétipo: estamos vivenciando algo que já aconteceu com outras pessoas. Quando coisas assim acontecem, a beleza das coisas se atualiza, como o ritual atualiza o mito.

Segundo Joseph Cambell, mitólogo que me ensinou a profundidade psicológica da mitologia, os mitos não dão um significado à vida. Diferente disso, eles tornarm a experiência de viver em algo mais profundo e belo.

Thursday, November 24, 2005

Thor VS São Pedro

Eu queria que Thor desse um pau na pedra católica... puta merda, diz a previsão do tempo que vai chover muito na sexta, muito no sábado, domingo, segunda, terça aqui em Belo Horizonte. Na boa, parece piada! Pior que eu vou sair na rua agora.... tomara que São Pedro não fique matando o tempo de porteiro dele lendo blogs.... o cara solta raios e tudo...

Wednesday, November 23, 2005

O Machado Espanhol

"Caminhante, são suas pegadas
o caminho, e nada mais;
caminhante, não há caminho,
se faz o caminho ao andar.
Ao andar se faz caminho,
e ao voltar a vista atrás
se ve a trilha que nunca
se há de voltar a pisar.
Caminhante, não há caminho,
apenas rastros no mar."

É do maior poeta de todos, pra mim. Seu nome é Antônio Machado, um espanhol. O que ele tem de grande? A simplicidade das palavras. A capacidade de olhar para o mundo e ver poesia, de em cada paisagem conseguir projetar um sentimento. Um impressionista dos sentimentos, captando em cada luz, em cada imagem, algo interior. Virtude de unir paisagem interior com paisagem exterior.

Esses são provavelmente os seus versos mais famosos. Eu fiz a tradução do espanhol. Não está perfeita, o "estelas" do final, traduzido para rastros, não me parece inteiramente correto. Mas passa a idéia.

Se eu encontrasse Machado, provavelmente diria:

- Puta que o pariu, Machado!!! Vai ser foda assim lá não sei onde!!!

Monday, November 21, 2005

Gostar de alguém é algo raro.

Mas nem sempre o suficiente.
Tanto o SIM quanto o NÃO seguem em frente.
Mas o talvez.... o tal do talvez, fica no caminho.

Eu sigo, sem ver o caminho e talvez, depois da curva, onde parecia o fim, perene, mortal, com monstros erguendo a cabeça na borda, com um depois incerto, haja um novo começo. O começo, o eterno retorno, tudo o que volta e que, sendo igual, em momento vário, muda.

Fado Tropical

"Sabe, no fundo eu sou um sentimental
Todos nós herdamos no sangue lusitano uma boa dose de lirismo...
(além dasífilis, é claro)

Mesmo quando as minhas mãos estão ocupadas em torturar, esganar, trucidar
Meu coração fecha os olhos e sinceramente chora...

Meu coração tem um sereno jeito
E as minhas mãos o golpe duro e presto
De tal maneira que, depois de feito
Desencontrado, eu mesmo me contesto

Se trago as mãos distantes do meu peito
É que há distância entre intenção e gesto
E se o meu coração nas mãos estreito
Me assombra a súbita impressão de incesto

Quando me encontro no calor da luta
Ostento a aguda empunhadora à proa
Mas o meu peito se desabotoa

E se a sentença se anuncia bruta
Mais que depressa a mão cega executa
Pois que senão o coração perdoa..."

Versos que estão no Fado Tropical, do Chico Buarque. Brincadeira, difícil de entender como o sujeito escreve uma maravilha dessas.

Sentidos

Um leve cheiro de deus pairando no ar.
Olhar pra tudo... não vendo nada...
e, de novo, enxergando tudo.

Não acredito no deus dos católicos. Não acredito no deus de cristo. Não acredito no deus dos evangélicos. Acredito mais no deus de Caeiro. Acredito em algo que se chama Deus-Pessoal, menos pai, mais par, mais irmão. Nem acima, nem abaixo, mas na altura dos olhos, dos pés, do sexo, da boca e das mãos. Um deus tangível, feito o corpo de uma mulher, quando se está apaixonado.

Saturday, November 19, 2005

Verdade

Amizade: Depois do choro vem o riso.
Romantismo: Há beleza mesmo na dor.
Budismo: Aceitar o mundo.
Campbell: A vida tem seu horror.
Bergman: Amor até o último minuto.
Kurosawa: Em cada frame, um quadro.
Mann: A doença promovendo a lucidez.
Machado: Não há caminho.
Cristo: Não arredar o pé do que se considera certo.
Nietszche: Viver fora do niilismo.
Sartre: A existência precede a essência.
Jung: O Self no meio do caminho.
Blake: Abrir as portas da percepção.
Floyd: Together we stand, divided we fall.
Shakespeare: Let it be.
Caeiro: O que acontece, porque tem que acontecer.
Pessoa: Esteves sem metafísica.
Marquez: A realidade é mágica.
Novo: Procurar o seu deus pessoal.
Veloso: You don't know me.

Tuesday, November 15, 2005

O Velho

No amanhecer de seus 80 anos, passados o café da manhã preparado por uma desconhecida - sua antiga e amada enfermeira já estava morta - e o banho, já asseado e pronto para iniciar o dia, às 10 da manhã, ele se lembrou da juventude. Não sabia bem dizer o que era melhor, a clareza com que seu pensamento entendia a realidade, dado pela experiência ou a ingenuidade de acreditar que o mundo estava em sua feitura.

Lembrava o quanto era terrível pensar na solidão enquanto era jovem. Sentia-se anacrônico naquela época, fora do tempo dos outros. Era um tanto inconveniente ser tímido, misterioso e silencioso e assim passava o tempo tentando encobrir os silêncios. Ainda que sonhasse, era um sonho de canário preso na gaiola: tinha o canto, direcionado sempre para outro lugar. Era um pássaro que cantava blues. Hoje entendia, sempre insatisfeitos, olhamos para o devir e a possibilidade.

O passado, esse truque da mente, tão maravilhoso e terrível.

Hoje, na solidão aprendida ao longo dos anos, sentia-se bem, velho dragão da caverna, mas um dragão bonachão, de longos bigodes chineses. Nem que odiasse a companhia de outros, só não os queria procurar. Mas sim, preferia a companhia das coisas simples, pedras que eram pedras, pássaros que cantavam, naturalmente, árvores zefirando sem medo de se quebrar. Vivera sozinho, nunca se casara ou tivera filhos, era um pouco excêntrico, sem dúvida, mas era quem ele devia ser, na saúde ou na doença, até que a morte o separasse das pedras, árvores e pássaros.

(continua...)

Monday, November 14, 2005

As Horas

Sinceridade, palavra tão simples, mas que apesar de tão aclamada tão pouco parece aparecer. Digo por mim mesmo, sem necessidade de melodramas. Talvez o conceito de sinceridade seja um pouco mais complexo. Sou sincero quando sou parcial? Creio que não. Mas como seria sincero escrevendo, se sou incapaz de abarcar na minha escrita toda a realidade que me toma e me envolve agora? Ou posso acreditar em níveis de sinceridade, como uma cebola de camadas várias? Penso se minha sinceridade deveria agora incluir meu maior incômodo. Digitar anda ficando mais difícil, conforme meus dedos se desaceleram. Antes eu não escreveria um livro por acreditar que não havia o que escrever. Hoje já enxergo um limite físico. Então, obrigar um leitor a desviar-se do texto e olhar para quem escreve, é ser sincero? Meu senso crítico tende a chamar certas sinceridades de melodrama.

Nesse momento minha atenção se aponta para algo diferente. Penso sobre o espaço que existe entre duas pessoas. Penso na trivialidade que se costuma usar no lugar do silêncio incômodo e inconveniente que naturalmente poderiam surgir. Penso na decepção de tentar quebrar o espaço, mas não ser bem recebido. Aconteceu. Me descrevem normalmente como um sujeito fechado e aprendi o que isso quer dizer: eu falo para encobrir o silêncio, falo para desviar o foco do que realmente importa. Constatei, sem muita tristeza: não conheço muita gente com a qual desejo quebrar a distância, nem dentro, nem fora de minha família. Vejo que conta mais o desejo de dizer que a recepção que se pode ter de uma contraparte.

Sempre olhar a vida de frente, hoje ouvi no filme. Reconhecê-la pelo que ela é. Encarar as horas. As horas que nos seguem antes e depois do agora, implacáveis. Descrever sempre em palavras o mais banal, pois dele pode surgir algo diferente. Olhar as pessoas, ouvindo não apenas o que é dito, mas o que se esconde. Ai vive a humanidade, alguns dedos longe da banalidade. Ser humano parece ser habitar lacunas. Nas lacunas encontrar pistas da vida que se deve levar, tendo atenção para não se viver a vida de outro, a vida que não cabe ao indivíduo. Fico pensando se não sou impostor da minha própria vida. Pensando se chegarei num limite em que duas escolhas se desenharão: morrer ou mudar e seguir. Morrer para morrer ou morrer de forma ritual, para ressuscitar.

Ditado

"Mais vale um tapa na cara que dois dedos nos olhos."

Sunday, November 13, 2005

Pra não dizerem que pulei da janela...

Abertas inscrições pra montar a banda Jacaré de Parede!

Requisitos:
- se dizer melhor que os Beatles
- querer ganhar milhões, se vendendo pro mercado
- se tornar um traidor do movimento no terceiro CD
- fazer check up com o Ivo Pitangui, pra ficar "bunitu"
- ter feito pacto com o Pé Preto, pra saber tocar direito
- se dispor a comer a cabeça de um inocente pombinho no palco
- cuspir a cabeça do inocente pombinho no decote de uma fã peituda
- depenar e cozinhar o tal pombo depois do show
- acrescentar duas colheres de óleo, depois de untar a panela
- sal a gosto
- fritar o bicho e mandar pra dentro

E lembrem-se! Mais vale um stupid post que no post!
Será? Azar, esse vai ser meu dogma...

Sunday, November 06, 2005

Mote

"Se não puder xingar no céu, não quero morar lá."
Mark Twain

Streetwise

"Two beers or not two beers? That's the question."
Shakesbeer

Tuesday, November 01, 2005

Se alguém te bater na face, vira...

... a mão na cara do tal alguém em retorno!