Sunday, September 30, 2007

Libertação

O que é o jardim do éden senão o útero de uma mãe? No mundo somos jogados, tirados de um lugar confortável, em que todas as nossas necessidades e desejos são satisfeitos sem esforço. Um lugar sem tempo, livre de todos os problemas. Será a vida simplesmente uma cópia mal-feita, pouco satisfatória, desse lugar? Vivemos desejosos e buscando uma alegoria de um momento completo?

Penso que crescer, libertação, tem a ver em romper esse modelo. Fomos jogados. Mas fico na dúvida se existe vida em olhar para trás, na busca da reconstrução do momento perfeito.

Acredito que a culpa nasce desse sentimento de termos sido punidos, expulsos do éden, do útero. Se estamos expostos ao sofrimento é porque fizemos algo de errado. Certas religiões sabem como captar essa culpa arquetípica transformando-a em grandes instituições. Sabem como explorar tal fato, contando com a falta de maturidade de seus seguidores. Estão pouco interessados no desenvolvimento do humano e da humanidade.

Já os grandes mestres espirituais pensam diferente. Propõe um renascimento. "Pare de olhar pra trás e desejar feito uma criança. Como um animal. Deseje com liberdade, como um ser humano."

Não tenho absolutamente nenhuma fé na humanidade, que é apenas uma abstração. Só o indivíduo pode se libertar e viver uma vida humana.

André C.

Reflexo

O céu passa
sobre o tampo de vidro da mesa.
Não só a nuvem passa
o prédio também caminha
e uma ponta da árvore.
Sempre preferi a árvore
que cresce e venta.
Os prédios são enormes desafios
mas o humano, assaz pequeno,
precisa de coisas eternas.
Um prédio morre.
Uma árvore lança sementes.

Poema tântrico-meditativo mononumérico em sequência estacionária e, principalmente, (bem) sonoro

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Instrução: use seus pulmões.

Filosofia

Ter mais coisas eternas,
fugazes e pequenas,
do que as que perduram.

Zen Concreto

8EEEEEUUUUU!!!!!80
8EU!80
8EU.80
8EU?80
880
80
0

Wednesday, September 19, 2007

O sol e o dedo indicador

Enquanto vocês (liberdade de tradutor) estavam se enforcando nas palavras de outros
Morrendo para acreditar no que vocês ouviram
Eu estava olhando diretamente para o sol brilhante.

(While you were hanging yourself on someone else's words
Dying to believe in what you heard
I was staring straight into the shining sun)

A palavra, ou o dedo, apontam o sol.
Mas o sol é o sol, não é dedo nem palavra.
Idiotas olham para o dedo que aponta a Lua e esquecem da Lua.
Leem bíblias em sânscrito, grego, latim, árabe e quetais achando que deus se esconde lá.

Mas a Lua! A Lua é uma outra coisa completamente diferente!
Mais vale o poeta, frustrado por saber que o mundo não cabe num livro,
mas que termina feliz por ter dado o melhor de si à tarefa,
pelo fracasso triunfante, em humildade,
que o teólogo que estuda fantasmagorias.

André C.

Hey you!!!

O Zen diz que a verdade vive no silêncio. Bem natural que os bons poetas não usem muitas palavras. João Cabral, Antônio Machado, Cecília Meireles, Alberto Caeiro... todos econômicos, todos precisos.

A bíblia do Zen são as histórias. Simples, absurdas e engraçadas. Nada de santos sérios compenetrados e tristes. Nem verdades que valham mais que a vida. Pouca coisa mesmo. Nada de deveres, nada de difícil... o fácil é o certo.

Poucas palavras dizendo muito. Digo isso para apresentar a simplicidade em que se baseia a minha fé na humanidade, nem na humanidade, essa abstração desumanizadora, mas na beleza e potencial do indivíduo. Pink Floyd, com toda aquela atmosfera, ganha mesmo é em um verso bem sacado ou outro.

Hey you,
Don't tell me there's no hope at all.
Together we stand, divided we fall.

Hey you,
Don't help them to bury the light.
Don't give in, without a fight.

Hey you,
Would you help me to carry the stone?
Open your heart, I'm coming home.


As histórias Zen não servem para serem entendidas ou explicadas. Elas devem ser sentidas, experimentadas. Tudo o que vale a pena geralmente não tem significado. Mas têm gosto, aroma e cor. Experimentar a vida, a simplicidade fora das palavras, no dia a dia. Depois, se for o caso, escrever. Escrever só quando algo te impelir pra isso... temos dentro de nós uma instância maior que é sábia. Que se comunica com o mundo sem intermediários, sem precisar dizer em letras.

André C.

Comfortably numb

There is no pain, you are receding
A distant ship's smoke on the horizon
You are only coming through in waves
Your lips move but I can't hear what you're saying
When I was a child I had a fever
My hands felt just like two balloons

Now I've got that feeling once again
I can't explain, you would not understand
This is not how I am
I have become comfortably numb

Tuesday, September 18, 2007

Lonely Stranger

Well, today... man feels right to feel kind of blue. É uma coisa difícil de se dar o direito. Life is a crazy and serious shit. E eu rodo pra lá e pra cá, natural. Everything deserves a good laught. Quanto maior a tragédia mais engraçado pode ficar... e eu, nas minhas pequenas tragédias? É quando, da vida, você toma um concentrado de "E agora José?". Touche e eu pude quase ouvir meu analista rir. Riso de canto de boca teve. To analyse is a way of not talking through things. E o cara tava certo... hoje eu falei... hoje perdi o ar e meio que a compostura de ser forte... well, let´s shout: fuck it! A liberdade é uma coisa que tem gosto de tudo... bitter, doce, dry, desce rasgando, tira o ar... mas que raio de coisa boa! Sentimento de arrancar uma espinha de peixe da garganta... a voz pode ficar rouca, arranhada, mas é um preço que pode-se pagar. That freudian type ia a bald smart mother fucker... indeed.


Lonely stranger, by Eric Clapton........

I must be invisible;
No one knows me.
I have crawled down dead-end streets
On my hands and knees.

I was born with a ragin' thirst,
A hunger to be free,
But I've learned through the years.
Don't encourage me.

'Cause I'm a lonely stranger here,
Well beyond my day.
And I don't know what's goin' on,
So I'll be on my way.

When I walk, stay behind;
Don't get close to me,
'Cause it's sure to end in tears,
So just let me be.

Some will say that I'm no good;
Maybe I agree.
Take a look then walk away.
That's all right with me.

Sunday, September 09, 2007

Auto-conhecimento

No meu olhar conheço o outro
no olhar do outro eu me conheço
no meu olhar eu me conheço
e o outro se conhece no meu olhar.

Friday, September 07, 2007

Baixar a guarda

Sem saber, eu achava que tudo nessa vida era uma guerra. Uma batalha impiedosa e solitária em absolutamente tudo. E eu sonhava com guerras e me sentia sempre o lado derrotado da história. Tudo era sério, pois quando você está numa guerra o risco de morrer é muito grande. Sem tolerância para erros e atenção total. Um soldado deve estar sempre pronto pra luta. E não há espaço para moleza, dúvidas ou questionamentos. Tudo deve ser feito em nome do dever. Sobreviver a qualquer custo. O mundo dividido entre fortes e fracos. Nada de sentimentos, nada de aberturas reais, nada de confiança. Pouca humanidade e sensibilidade. E eu, no meio da guerra, precisando de poesia, letras, música, pessoas e arte. Todos os meus livros foram perfurados por balas. Era inevitável.

Tava tudo errado. Inconsciente tem hora que é uma merda por causa disso. Tem coisas, certas imagens e modelos mentais que nos influenciam sem que a gente saiba. Coisas que por baixo do pano, abaixo da ponta do iceberg, determinam nossos comportamentos. E a vida numa guerra só pode ser cruel, despida de qualquer beleza ou grandiosidade.

E eu, que me achava tão fraco, não era percebido assim. Pra muita gente sou um cara sério, decidido, firme, independente e capaz. Sou agressivo, mau-humorado e nervoso. Faço colocações incisivas e duras, ataco a qualquer sinal de provocação. Reajo mal quando pressionado. Sou fechado e duro demais comigo mesmo e com outros. Sou justo até o limite da dureza.

Surpresa ser tudo o que eu achava que não era. Ou melhor ter os comportamentos todos construídos no mote da vida é dura, má e pesada sem saber que isso baseava a minha vida. Onde foram parar os meus sonhos? Eu queria ser poeta ou criador de coisas. Eu tenho um ideal quase zen de vida. Eu queria aprender tudo. Eu confio na minha capacidade de aprender a aprender qualquer coisa.

Meu espírito debaixo de uma bota de militar, esmagado. Por que?? A troco de quê??


André C.

Sonho

Diz o Aurélio que sonho é uma idéia dominante, perseguida de interesse e paixão. Mas eu não me entendo com o Aurélio, esse Jeová vingativo do antigo testamento.

Pois minha dificuldade é saber o que é um sonho. Sei que eles importam, sei que sonhos são as capas translúcidas que revestem todas as coisas, feiro aura. Mas pra mim eles parecem muitas vezes as roupas dos reis nus.

Coisas importantes são tão tênues que chegam a não parecer coisas. As grandes coisas teimam em fugir das palavras, das idéias e por vezes se escondem em sentimentos difíceis de se perceber. Mas eles estão lá.

Meu sonho tem a ver com liberdade, tem a ver com iniciativa, tem a ver com enxergar o brilho nos olhos dos outros e não sentir inveja. Joyce diz que pornografia é quando o observador quer para si o objeto. E que epifania é quando o senso do todo te possui, te enleva.

Meu sonho é atingir epifanias ajudando o desenvolvimento do mundo. Meu sonho é ser rei soberado de minha vida, Rei de Copas, feito de coração e honra. Firme no propósito e na ação. Meu sonho é ter epifanias com a beleza do mundo. É ver tudo o que for grandioso, é estar no mundo guiado pelo meu brilho nos olhos.

Pois é o brilho nos olhos a verdadeira forma de ver. E o olho que brilha é o condutor mais seguro para a vivência do sonho!

Todo criador é um sonhador. Todo criador se sente sozinho e quer criar para si um mundo vivo, povoado.

André C.

Filosofia

I once thought it better to regret
Things that I have done than haven't

Sometimes you've got to be wrong
And learn the hard way

Porém melhor seria se tudo fosse fácil. Os moralistas dizem: mas ai não teria graça. E qualquer um realmente sincero responderia com uma boa gargalhada. Acho que eu espero mais da humanidade do que o que pode ser oferecido. Por vezes imagino que sofro de alguma síndrome de Rex. Mas também pode ser só preguiça de arregaçar as mangas. Na verdade é mais simples: errar é foda. Ainda aprendo a não levar tão a sério. No potencial de aprendizado eu acredito.

Sem desculpa

Sempre precisei escrever para alguém, ter um alvo, uma musa inspiradora. Foram tantos alvos e uma infinidade de musas. Tirei de mim a vontade simples de escrever. Não há sentido em escrever. Mas, na verdade, coisa algum tem significado instínseco. O significado final das coisas e a suposição de sua existência são arbitrariedades impostas pela vontade irrealizável de ter certeza. Só os verdadeiramente sinceros e corajosos aceitam viver sem um saber final.

Quero me acostumar a escrever não pelo sentido que isso tem, mas pela profundidade que isso me acrescenta. Profundidade que, do início ao fim, é só minha.

Tuesday, September 04, 2007

Eu preciso lembrar

que eternidade, é sonho de viver com brilho perene no olhar...

Moody blues

We´re part of the fire that is burning
And from the ashes we shall bring another day...


Shiva, o deus que destrói o tempo dançando, é mais adorado que Bhrama, o deus criador. Criados já fomos, é algo dado, mas a transformação, a mudança, acontece, empurrando para a frente... queremos morrer pois sabemos: assim se dá a vida.

Mais que entender a dança, dançar.