Monday, March 31, 2008

Um pouco de tempo

E o sorriso dela ficou comigo.

Poucas palavras pra uma única e bela imagem, que diz tudo na sabedoria e simplicidade do silêncio.

Porém, simplesmente não consigo parar de escrever...

Mesmo que eu não enxergasse, me restaria o olfato e o perfume pairando, pois eu sentiria dela o cheiro da manhã, todo de orvalho e o frescor em verde natural.

O aroma que evoca imagens e bons momentos.

Eu menino, saído da piscina, deitado na pedra morna do beiral, vendo a água cintilando, sentindo o sol presente em seu calor. Tudo era simples. Tudo podendo parar ali mesmo. A sensação de se estar em casa e a casa, podendo ser qualquer lugar.

Mesmo sem olfato, o sol se mostra, pois há a pele, há o tato.
E mesmo sem toque, há a imaginação, o maior de todos os sentidos.

André C.

Friday, March 28, 2008

Pessoas que põe as outras em caixas OU um hino aos idiotas

Frases interessantes que já ouvi:

"Eles se escondem atrás da:

Caro leitor, marque com um X a opção correta:
a) Sorriso
b) Nariz
c) Parede
d) Deficiência"

Quantas vezes já tive oportunidade de ouvir tal cretinice? Muitas e muitas. Já fui colocado no balaio de gato em que se joga coisas que não se entende. Já me revoltei, já xinguei, dei respostas atravessadas e já fiquei sem reação. Todas as vezes que respondi, destruindo alguns alvos, me senti bem. Sempre que não respondi, me senti mal. Hoje tanto faz, não quero discutir bobagens com ninguém.

Mas é engraçado quando algumas pessoas que também tem alguma deficiência, acreditam que isso basta para tornar duas pessoas próximas. Não basta. Deficiência não é característica de personalidade. Posso ter ou não alguma coisa em comum com outro cadeirante, bem como com qualquer outra pessoa.

Esse tal ELES que não existe. Essa bobagem fatalista de que deficiência é uma coisa ruim pra gente aprender alguma coisa. Quem repete isso não aprendeu nada. Não tenho inclinação nem vontade para mártir nem exemplo.

Eu sempre fiquei a margem dessas bobagens. Cada um tem uma vida, nasceu com diferentes condições (físicas, financeiras, estéticas, sociais, culturais) mas precisa aprender, no fim, a se virar, com mais ou menos gente ajudando.

Já estive com uma boa cota de mulheres, de todo tipo. Já escrevi poesia, já cai de amor. Já tenho meu punhado de histórias de bêbado. Realizei alguns sonhos. Já fiz tatuagem. Já desconcertei fanáticos religiosos (esse povo que mata Jesus, transformando o cara num retrógrado). Já rejeitei e fui rejeitado. Estudei. Me tornei mais independente financeiramente que a maioria das pessoas que conheço. Já levei amigo (e me levaram) pra zona. Descobri coisas que não sei fazer aos montes. Já fiz coisa que eu achei que não ia aprender. Abandonei um monte de coisas que comecei. Tarot, estudar pra concurso, jogar futebol. Fiz poucos amigos. Mas o que eu fiz são mesmo meus amigos. Li muitos livros. Fui em centro espírita. Namorei a distância. Fiquei na amizade quando não era isso que eu queria. Fiz e faço aula de música. Mudei de aparência uma boa quantidade de vezes. Cabelo, barba, cavanhaque, gordo, magro, estilo hippie, "plínio", bermudas. As melhores experiências da minha vida aconteceram quando eu estava sozinho. Mas acontece de eu gostar de gente e sentir aquela urgência social inevitável ao ser humano.

E milhares de outras coisas. Boas ou não, justas ou injustas. Coisas humanas. Posso ser um idiota ou um grande cara. Posso ser milhões de coisas. Isso varia, e muito.

E eu não entro numa caixa. Por ninguém.
Categorizar gente é coisa de autópsia.
Quem respira, muda.

Monday, March 24, 2008

Meditação

Quando eu olho, eu acho que penso
mas dou um passo atrás
e eu Sinto.
Meu corpo diz que isso é o real.

Mais um passo atrás
quando eu me achava encostado na parede
e fica o silêncio.
Do medo, da aspiração tensa,
gradualmente inspiro:
tempo cortado pelo além da lentidão.

Fica o silêncio da luz.

Abrir os olhos, então,
é ver tudo diferente
no eterno brevemente revelado.

André C.

Gosto e crítica

Não conheço praticamente nenhum crítico que merece o título. Conheço um monte de gente que gosta de um monte de coisas, mas nenhum crítico. Gosto tem a ver com inclinação pessoal. Eu gosto de rock. Crítica tem a ver com avaliação técnica. Odeio música sertaneja, mas tem um ou outro cantor desse tipo de desgraça... ops... desse tipo de """"""música"""""" que, pra minha imensa tristeza, canta tecnicamente bem.

Tive um professor que eu detestava, um sujeito insuportável, chato e metido, mas que deve ter sido o melhor professor da minha época de faculdade, pois era o que mais sabia e o que tinha uma didática matadora.

Tive outro professor, o melhor, que além de saber e conseguir transmitir, era um cara legal. Era realmente um grande cara, como poucos. Lembro dele também.

E teve um monte de professores bem intencionados que eu sequer lembro o nome. Uns legais, outros chatos, mas todos de uma competência "esquecível".

Crítico é o sujeito que avalia as coisas com algum distanciamento. Que consegue suspender seu juízo e colocar olhos mais imparciais. Crítico é o sujeito que ama o amigo, mas nem por isso deixa de ver seus defeitos.

Aliás, tirar os defeitos que uma pessoa tem é tirar parte do que ela tem de humano. A imperfeição faz de nós seres de que se pode ter amor. Tire isso, e fica pouca coisa. Eu ainda vou aprender a amar meus defeitos feito um pai que olha um filho que está aprendendo a andar: ele tropeça e cambaleia, mas é difícil ver algo mais tocante que isso. Difícil ver um potencial de desenvolvimento tão grande quanto esse.

Tudo, no começo, é ilimitado, tende ao infinito.

Paradoxalmente, ai vem a beleza do ideal. Tudo o que pode ser, mesmo que seja no fim bem menos. Mas eu quero me deitar um dia, sábio que aquele é o meu último, e ter meu último suspiro direcionado ao infinito.

Gosto de quem vê um pouco além das coisas, que permite que o mundo tenha algo de fantástico, algo de infinitamente belo.

Gosto das fotos que me fazem perguntar: o que ela está imaginando? Eu olho e vejo uns olhos castanhos, tão jovens, ligeiramente confusos, mas perguntando o que tem para a frente, o que o mundo me reserva. Viajens? Talvez. Poesia. Ah! Se há justiça no mundo, com toda certeza. Que sejam muitas as poesias.

André C.