Acho que o que mais importa na vida não pode ser medido por sua utilidade. A vida em si não é necessariamente útil. A utilidade não é capaz de definir o significado ou o valor de uma determinada existência.
Medir uma vida por sua utilidade significa colocar pessoas no mesmo patamar de máquinas. Coisas existentes para um determinado propósito. Significa acreditar que nossos "insumos" existenciais poderiam ser resumidos apenas a outras coisas e objetos. Significa transformar nosso tempo em uma corrida desesperada para fazer mais, para ser mais eficientes.
Mas não. Humanos que somos, agraciados (por vezes amaldiçoados) com uma imaginação sem limites, com sentimentos profundos, grandes paixões, não nos basta ser eficientes. Nosso porquê existencial, construído ao longo do tempo, uma obra que nunca é concluída, para ser por vezes satisfatório, implica em mais que isso.
A realização, os momentos felizes, aqueles marcantes por sua força, não são assim por deixarem em nossas mãos mais produtos. O amor despertado, a morte se uma pessoa querida não são sentidos por serem úteis, mas por terem um impacto emocional poderoso. Quando alguém importante morre, o que mais nos falta é a própria pessoa, não sua produção.
Acredito que o capitalismo é o melhor é até mais natural forma de se fazer chegar coisas às pessoas, de se prover objetos, inclusive aqueles relacionados a nossa subsistência. Porém, satisfaz uma instância muito rasa de quem somos.
Não nos basta objetos. Por mais satisfeito que um indivíduo fique com suas coisas, ele nesse momento não é diferente de um cachorro que ganhou um biscoito especial. Por mais que uma coisa apele para nosso lado simbólico, com seus apelos e promessas de diferenciação social, não nos torna muito diferentes.
Dizem que quando alguém morre é como se uma biblioteca se queimasse. Mais que isso, não são os livros queimados, mas é aquela voz de um contador de histórias, sua existência única, sem precedente ou impossibilidade de repetição que se vai.
Não quero ser útil, funcional como um relógio, rápido como um hamster em sua rodinha. Quero ser vivo, ter nos olhos chamas e não códigos binários, alimentar aquele ser que se alegra no cheiro da chuva, no desejo de correr desembestado na grama, que se impressiona com a grandeza de muitos e até com a pequenez de outros tantos.
Até que ela venha. Inevitável. E possamos rir dela.