Tuesday, September 19, 2006

bliss

Grandiosidade. Aquele sentido de que se faz parte de algo grandioso, de um mistério sem fim. O véu do mistério, que sempre haverá. Garantia da criação. Enquanto há o véu, impenetrável, existe o mistério. Mas o véu tem frestas e espaços translucidos. O que se vê, além dela, quando um facho de luz atravessa o mundo e a poeira, suspensa, permite que o facho seja visto? Ai vive a criação. Ai, nesse espaço, vive o poeta. Ah! Sempre existe um espaço entre a tal realidade e a vida humana! O desvelamento é parcial... mas quando algo se desvela, quando a dualidade das coisas cede, por um momento, algo inexplicável e maravilhoso acontece. Me sinto prestes a iniciar uma religião, tal qual o místico, que, maravilhado, tenta transmitir via teologia, via palavra, para partilhar sua benção, ao resto do mundo. Eu grito!

Me pergunto, com profundidade, que experiências de vida me fazem realmente me sentir vivo? Vivo, profundamente. Em contato com algum nível de realidade de coisas. O caminho, meu caminho. Há pistas. Nas coisas simples ou complicadas, quando, por um momento, o sujeito se sente inteiro. Um casamento em seu mais alto sentido: comunhão, compromisso com o centro da roda e não com as casualidades. Amor fatti. Amor pelo destino. Não só.

Estou como o bêbado que faz algo que o chato regado a coca-cola nunca faria. Mas tal qual bêbado, protegido pelos deuses, seja lá o que eles forem, ou qual nome assumam, ou tal qual o estudante de canto, que tenta lembrar onde, em sua garganta, a nota certa ressoa, a lembrança falha. Pra que pôr palavras? Melhor seria uma metáfora.

A grandiosidade sentida é o reconhecimento de algo como um deus interior. Tal como os indianos, hoje eu poderia saldar cada pessoa com um cumprimento, de mãos unidas como reza, que reconhece no outro uma divindade. Divindades em diálogo, ligados pelo mesmo princípio, unos, se olham REALMENTE nos olhos.

O Camelo, o Leão e a Criança. Sociedade formadora. O Leão contra o Dragão do Você Deve. A Criança, o menino-jesus do Alberto Caeiro, que limpa o nariz na barra do paletó armani.

1 comment:

Anonymous said...

Belos textos...
É bom conhecer mais de você através das suas palavras. Seja por aqui, seja por telefone, e espero que, em breve, também em cafés e canções...