Wednesday, November 18, 2009

Ao longo do caminho

Transtornado,
forma transitória
do cavaleiro transfigurado
da (nem um pouco) triste figura.

Tornado passageiro,
vulto todo iluminado
cheio de silêncio:
transformado ao longo do caminho.

André C.

Tuesday, November 17, 2009

Passagem

O tempo
espiral desdobrada
de quem olha por vezes o mesmo
já de outro ponto de vista.

Não é um círculo, constante,
antes, é serpente que se desenrola
não cabendo em linhas, escada reta,
feito em progressões exatas.

Não há disso no tempo
feito de suas antiguidades e rituais
dado a desarranjos e imprevisibilidades.

Nem só de progresso vive o homem,
o pão que comemos
é bem mais efêmero.

André C.

Tuesday, November 10, 2009

Só lembrando...

A melhor cor para tudo é a imaginação.

Tuesday, November 03, 2009

Toalhas e o amor

Estar apaixonado, profundamente,
é estar feliz pois você encontrou
ao lado de sua toalha a toalha dela.
E próxima da sua escova de dentes
a escova e o creme dental dela.

É saber que ela, a amada, se encontra ali
do outro lado de uma porta
que em breve se abrirá.

É um caminhar orgulhoso, na rua,
com o pão quentinho, da padaria,
para tomar café com ela
(só com ela)
na cumplicidade do sorriso
e de um beijo-selinho roubado
a cada mordida.

Estar apaixonado, de vez em quando
é tristeza:
quando sua toalha está sozinha
ou a dela continua dependurada
sem que Ela esteja presente

quando a escova dela foi embora
e o chocolate dividido por amor
virou só uma embalagem vazia.

E ai é ficar de novo alegre,
sonhando com a chegada do dia,
aquele dia em que ela,
o seu único e apaixonado amor
virá de vez, para ficar.

Deus

Vi a luna hoje.
Coisa complicada,
poesia iniciada em ato falho.

Vi a lua hoje de um jeito de antes, que eu não me lembrava. Na última vez a lua era sol e eu me encontrava desesperado na dúvida profunda de que se Deus existia ou se deus não existia. Nunca na minha vida me pareceu mais importante responder essa dúvida do que naquela época. Eu precisava se uma solução ou minha cabeça explodiria. A solução encontrada foi a suspensão que era pura sinceridade: eu não sei.

Não sabendo fui seguindo e livro após livro, experiência após experiência vi o simbolismo de Deus e aprendi que não sabia o gosto de quê eu estava sentindo. Comemos amoras, mas podemos ter certeza da literalidade da experiência? Entre nós e o mundo haverá sempre uma barreira simbólica, um nome, uma imagem, uma palavra. O que nos separa da realidade nos une na convivência possível de Deus em muitos nomes, válido em todas as suas máscaras e atado em semelhança. Atado na virtude, na cólera, no poder, no silêncio e no grito.

E o gosto que eu quis então foi uma experiência religiosa direta, além dos nomes, idéias ou imagens. E eu senti esse gosto por via da manifestação natural que considero majestosa: o verde e as árvores. Sonho antigo de correr desembestado pelo mato.

Hoje, entendo e vivo e aceito o simbolismo, mas minha licensa poética me dá oportunidade de ver esse tal deus e acreditar que ele investe em si o amor. Mas ainda o vejo múltiplo e igualmente válido em vários mundos dentro do nosso.

Que mal há em ver na Lua, Luna, uma deusa bela, virtuosa e natural? Não há mal possível em algo tão sublime e maravilhoso. Ainda que houvesse, meu coração de menino emburrado e teimoso me protegeria... A imagem ou a idéia poética da luna nada mais são que meros veículos, importando bem menos que a viagem.