Tuesday, June 16, 2009

O caminho para dentro

Estou no escuro. No escuro não se pode ver coisas definidas. No escuro a única luz existente é a interior. Sozinho, no silencio, pode-se ouvir o tilintar sutil da vontade, vibrando quase inaudível. Não é uma luz externa que deve ser acendida. Mas sim o sol eterno interior, o que chama de alma, o que chamam de vontade, desejo, impulsão. No escuro, você sabe que existe, não sendo possível confiar em nenhuma referencia externa, restando só o si mesmo. Lá, livre de influências, está a fonte. Eu sonho com essa conexão. Deus é isso. No silêncio que permite o encontro. O encontro entre o homem, que deve descobrir como abrir a gaiola e o cavalo que lá está. Uma força viril que precisa de direção. Que precisa de uma consciência humana. O cavalo no campo é o cavalo provocado a agir, fora de seu centro, fora de seu lugar. O sangue não importa tanto, ele me diz que é a minha vida ali representada. Minha luta contra os chifres em cabeça de cavalo. Não há nada de grave a ser descoberto. Existe sim um eu a ser encontrado, que sempre esteve lá. Mas para encontrar algo além de uma névoa e uma terra devastada, é necessário mergulhar mais. Além do superficial. Um velho de olhos vermelhos e lobos. Um mar de tubarões, um recém-nascido na caverna profunda e uma planta, uma muda para ser plantada. Um sacrifício. Um nascimento. É preciso abandonar a criança de vez e abraçar a consciência. Do desejo infantil, do choro pedinte, para o da vontade que busca instrumentos de realização. O fim do externo e o desenvolvimento do ouvido interior. Há sim o que ouvir, sempre. O silêncio ou o barulho esconde, mascara, enevoa.

Monday, June 01, 2009

O amor

Sim, o amor, simples, puro e, acima de tudo, óbvio. Tão óbvio que uma pergunta levantada o esconde, como o vidro invisível quando o nariz se encontra próximo.

Encontrei o amor. Ele está onde eu lanço meu olhar. Ele está naquela que amo e o amor dela cai sobre mim como a fina chuva que refresca o verão. Eu sou dela, inteiro e sem medida. E ela é minha. E sim, há um pouco dessa posse no amor.

Quem ama torna o coração do outro tão próximo que ele vira o seu próprio coração. Na sombra de um mora o frescor do outro. No sol do olhar de um se aquece o corpo do outro.

Encontrei o amor. Numa despedida numa triste noite de hospital. Encontrei anos depois, em outro hospital, mas que tinha nome de vida. Encontrei um pouco antes, em outro nascimento, nuns olhos grandes e curiosos, lançados com vigor para todo o mundo. Nada de perguntas, só uma capacidade enorme de processar todos os acontecimentos do mundo.

Encontrei o amor tendo perdido uma grande parte de mim. Pois o amor pede menos orgulho e pede mais coragem, coragem de ser até piegas em algumas horas. Coragem de novamente acreditar numa cura para um mundo perdido.

Coragem louca e desvairada de um sonhador que tinha uma enorme dificuldade em definir o que é sonho. O simples motivo: sonhos são como o amor, quem pergunta demais automaticamente o calará. Como o sujeito estúpido que cobra da criança o silêncio, quando deveria aprender como é maravilhoso o som das primeiras impressões sobre o mundo.

encontro

Puxo atrás de mim uma grande sombra, dura e espessa. E eu temo. Tenho medo de tocar o que é puro, como se eu fosse um sujeito com grande potencial para o mal. A crença no mal me protege de mim mesmo, de toda luz, no coração da suposta sombra. De todo o amor, escondido sob o pano do sofrimento. O véu que é máscara, o orgulho espesso e bem disfarçado. Sem orgulho e a força do mal, o que me resta? A desconfiança, a inveja e a raiva, elementos contrários a liberdade. Difícil de conter a sombra, as barras da minha janela. Eu sou o cavalo mas ainda me encontro numa atuação e não me reconheço com facilidade. O cavalo é um encontro.

corrida

Sem andar, eu ainda sou o que corre. Mas se eu correr, vou me machucar novamente. Se eu reagir ou lutar, irei sentir dor. Difícil viver sabendo da impossibilidade do ideal. Quero o mundo no qual eu corria e era feliz. Eu comigo mesmo. Fora do campo, o menino não andava direito. Dentro do campo, só com ele mesmo, ele corria como o vento, sem comparações, sem inveja de quem corria, sem timidez de ter olhares sobre si. Sem ser menosprezado. Lá, no campo, nada o abalava, até que veio a dor e com ela a sensação de punição. O problema nunca foi com ele mesmo. Pra ser feliz, a gente corre riscos. E sangra.