Vi a luna hoje.
Coisa complicada,
poesia iniciada em ato falho.
Vi a lua hoje de um jeito de antes, que eu não me lembrava. Na última vez a lua era sol e eu me encontrava desesperado na dúvida profunda de que se Deus existia ou se deus não existia. Nunca na minha vida me pareceu mais importante responder essa dúvida do que naquela época. Eu precisava se uma solução ou minha cabeça explodiria. A solução encontrada foi a suspensão que era pura sinceridade: eu não sei.
Não sabendo fui seguindo e livro após livro, experiência após experiência vi o simbolismo de Deus e aprendi que não sabia o gosto de quê eu estava sentindo. Comemos amoras, mas podemos ter certeza da literalidade da experiência? Entre nós e o mundo haverá sempre uma barreira simbólica, um nome, uma imagem, uma palavra. O que nos separa da realidade nos une na convivência possível de Deus em muitos nomes, válido em todas as suas máscaras e atado em semelhança. Atado na virtude, na cólera, no poder, no silêncio e no grito.
E o gosto que eu quis então foi uma experiência religiosa direta, além dos nomes, idéias ou imagens. E eu senti esse gosto por via da manifestação natural que considero majestosa: o verde e as árvores. Sonho antigo de correr desembestado pelo mato.
Hoje, entendo e vivo e aceito o simbolismo, mas minha licensa poética me dá oportunidade de ver esse tal deus e acreditar que ele investe em si o amor. Mas ainda o vejo múltiplo e igualmente válido em vários mundos dentro do nosso.
Que mal há em ver na Lua, Luna, uma deusa bela, virtuosa e natural? Não há mal possível em algo tão sublime e maravilhoso. Ainda que houvesse, meu coração de menino emburrado e teimoso me protegeria... A imagem ou a idéia poética da luna nada mais são que meros veículos, importando bem menos que a viagem.
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