Sunday, August 28, 2005

Deu no jornal

Na manchete, algo pouco comum, um tipo de notícia cuja informação caberia a uma simples nota, de poucas linhas. Sim, a noite, por motivos cardíacos, tinha morrido um poeta, desses que talvez ficasse conhecido mais pelo título dado por aqueles que pouco sabiam realmente de poesia que propriamente pelo que ele escrevia. É, tinha coração o tal poeta, tentado a virar poeta beat, poetizando sua vida crua de ser humano. Todo o resto seria fantasia na tal vida do tal escrevinhador. Caira, sem alarde, no chão, ganhando um ferimento na cabeça ao atingir o mármore frio. Se ele não tivesse morrido do ataque cardíaco, provavelmente carregaria para o resto de seus dias uma cicatriz. Externada, na testa, ela ficaria cravada no cérebro tal qual uma raiz com múltiplas ramificações. Uma cicatriz tão profunda que, se retirada por um cirurgião plástico continuaria crescendo para dentro e voltaria a ser objeto de decoração.

Mas havia algo de extraordinário naquela morte. O corpo tinha sumido logo na primeira noite. Segundo alguns funcionários da morgue, acometidos de alucinações noturnas, típicas de trabalhadores desse tipo de estabelecimento, ele tinha saído andando. Diziam que o homem parecia mais escuro que antes, tinha também olhos um pouco menos brilhantes que de um vivo, de uma coloração sobrenatural-esverdeada.

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