Friday, September 07, 2007

Baixar a guarda

Sem saber, eu achava que tudo nessa vida era uma guerra. Uma batalha impiedosa e solitária em absolutamente tudo. E eu sonhava com guerras e me sentia sempre o lado derrotado da história. Tudo era sério, pois quando você está numa guerra o risco de morrer é muito grande. Sem tolerância para erros e atenção total. Um soldado deve estar sempre pronto pra luta. E não há espaço para moleza, dúvidas ou questionamentos. Tudo deve ser feito em nome do dever. Sobreviver a qualquer custo. O mundo dividido entre fortes e fracos. Nada de sentimentos, nada de aberturas reais, nada de confiança. Pouca humanidade e sensibilidade. E eu, no meio da guerra, precisando de poesia, letras, música, pessoas e arte. Todos os meus livros foram perfurados por balas. Era inevitável.

Tava tudo errado. Inconsciente tem hora que é uma merda por causa disso. Tem coisas, certas imagens e modelos mentais que nos influenciam sem que a gente saiba. Coisas que por baixo do pano, abaixo da ponta do iceberg, determinam nossos comportamentos. E a vida numa guerra só pode ser cruel, despida de qualquer beleza ou grandiosidade.

E eu, que me achava tão fraco, não era percebido assim. Pra muita gente sou um cara sério, decidido, firme, independente e capaz. Sou agressivo, mau-humorado e nervoso. Faço colocações incisivas e duras, ataco a qualquer sinal de provocação. Reajo mal quando pressionado. Sou fechado e duro demais comigo mesmo e com outros. Sou justo até o limite da dureza.

Surpresa ser tudo o que eu achava que não era. Ou melhor ter os comportamentos todos construídos no mote da vida é dura, má e pesada sem saber que isso baseava a minha vida. Onde foram parar os meus sonhos? Eu queria ser poeta ou criador de coisas. Eu tenho um ideal quase zen de vida. Eu queria aprender tudo. Eu confio na minha capacidade de aprender a aprender qualquer coisa.

Meu espírito debaixo de uma bota de militar, esmagado. Por que?? A troco de quê??


André C.

1 comment:

Jess said...

é só o resto do mundo tentando te puxar para as trincheiras... como se valesse a pena se humanizar tanto assim, viver entre balas e buracos. buracos largos e profundos. o fim dos sonhos. porque quem sonha desprega os pés da terra de um jeito suave. tão suave que chega a ser perto qualquer distância que um bicho alado alcança. quem sonha..