Monday, December 06, 2010

o olho

os olhos se relacionam ao invisível
são a máquina de somar, multiplicar,
aplicar novas camadas ao mundo.
a melhor cor pra tudo é a imaginação

distrofia

olhar o dragão
estudá-lo
medir seu tamanho
conhecer seu peso.
conhecer o inimigo,
para travar a guerra da vida
bravamente.
espada em punho
e sorriso nos lábios.

Monday, October 25, 2010

olhar

não ha arte que se perca
apenas um hábito que se esquece
meio sem querer
tipo na rotina.
o olho é o mesmo
mesma cor, mesma iris,
mas a alma que por ele escuta
muda, é diferente.
é alma cansada,
alma óbvia
que esqueceu de ver o novo.
o sorriso dela e a frase implícita
"tudo vai ficar bem".
é um ir embora que segue um
"titio" de um ser pequenino,
e você volta só pra ver a brincadeira
de criança que descobre, que se torna.
Arte, olhar de quem busca o devir
e não esquece, nem se quiser.
alimento sempre e desalento também
o tudo que é só um pouquinho
mas basta. basta.

Morno

Morno,
como quem vomita
sem opnião
apenas uma palha quebradiça
fácil, que se parte com o vento.
Eu, que já me parti
com o peso de meu próprio corpo.
Em número 3, exato,
femuramente no mesmo lugar.
Me sinto fraturado,
com andar fraco.
Exposto, sem pele
temeroso, desconfiantemente
eu mesmo.
Soco no ar
de um rato que ruge
e um demônio, que ri baixinho.

Sunday, June 13, 2010

amor

Quero cantar o amor
e o todo que ele representa.
Deixar que flua
que cure e transforme
revelando, purificado,
o espírito, minha alma.
Árdua tarefa
pois amor é filho do silêncio
surge na calma, no perfeito vazio.
O Eu é a barreira
construções ilusórias
Maya sobre a vida...
Quando tudo está quieto
quando não há barreiras
entre o sujeito e a experiência
é ele que vibra.
O amor é encontro
do ser com a vida
o silêncio búdico
que revela o sentimento crístico.

Monday, June 07, 2010

passado do feliz etnocentrismo

O passado
promessa encerrada
lembrança irreal da perfeição
ilusória, gritada aos sete ventos.

A música está morrendo,
O cinema está definhando

Antigamente, as coisas eram mais certas.
Onde estão os valores?
(cadê meu rivotril??)

A morte visita aqueles que querem morrer
o passado é vulto, é âncora, é desculpa.

Antigamente, as coisas eram melhorespra quem era branco
pra quem não era mulher
exclusivamente para os heterosexuais
num mundo em que os que tinham deficiência eram escondidos
trancafiados, eliminados.

O amor exclusivo ao passado é para os mortos,
os velhos infantis, teimosos e apegados ao que já foi
incapazes de se conciliar com o mundo do real.

Morram, aqueles que querem morrer
e chega de lamúria, sem drama.

A vida é nova, é trabalho de demiurgo
de gente que sonha e cria o mundo.
de quem aprende com o passado
e sai a cata do que ainda não é
mas pode tornar-se, é devir.

Monday, May 31, 2010

dor

sabe quando a gente se sente grande demais?
quando parece que se você fosse menor
menor, proporcionalmente, seria a dor?
mais suportável seria o sofrimento
esse rasgo que descobre o negrume da alma
e expõe, explicita, esfrega-se na cara do mundo.
sinto dor mas não cuspo sangue...
sinto dor mas não sei por que
nem de onde veio, nem pra onde vai.
Além da dor, sinto o desespero
me acuando, me apunhalando
como um fantasma
um ser de outro mundo
que não se pode tocar.
que dele não se pode defender
pois nada parece diferente
nem mais errado que ontem
apenas mais claro
como um ferro em brasas
quente, próximo dos olhos.
Grito no vácuo
sem porque.
nada, ABSOLUTAMENTE NADA
que explique.
eu, eu minto.
uma alma que não grita
um ego que esperneia
um auto-crítico que se deleita
h i s t e r i c a m e n t e
a l é m  da medida.

sim, não há pista
mas o veneno simplesmente se destila
escrito aos bits
arriscado de se perder
num simples fechar de telas.

o auto-crítico não mais sorri
ao perceber sua ode masturbatória
em risco de vida.

eu sorrio
feito balão
esvaído de gases inúteis
minhas amadas idéias mortas
meus ideais sempre incognoscíveis
meu gostos esconcidos em pistas
imiscuidos no gosto dos outros
feito um medroso
que precisa de companhia para saltar o penhasco
que pede desculpa
pra ver se alguém escuta.
mas não, vivo em monólogo
grito em monólogo
e brigo apenas comigo.

e escrevo, como se tudo fosse verdade
e acredito, como se tudo fosse verdade.

quem sou não é uma pergunta
quem sou é ausência de perguntas
quem sou é silenciosa, não esperneante, aceitação.

CANSEI.

André C.

Monday, May 24, 2010

Lições

Eu aprendo com o corpo.
Sei mais sobre o que toco
e sinto
do que o que penso
ou racionalizo.
São Tomé Taurino
com todos os 5 sentidos.
Se têm gosto
ou me provoca
ou me convida
ou me seduz,
se me chama como um todo
ao experimento, ali estou.
Minha verdade:
amor como aprendizado
deus como totalidade
escolha como constante
perdão é liberdade
compaixão para completude
determinação como guia
desejo como espírito
esperança, caminho,
conhecimento por experiência
e plena, quando como pão partilhado.


André C.

Monday, May 10, 2010

Eu canto


Eu canto
Por querer

Sem querer
fazer parte da roda do violão
pois não é pelos outros que canto.

Sem ser pelo desafio
de me esticar pelos extremos
o tom escuro dos graves
ou a plenitude dos agudos.

Também não canto
pra fazer tudo certo
nem pra fazer tudo errado.

Canto porque quando eu canto
um sorriso descontrolado se apodera de mim
e, assim, sem perceber
eu não ligo mais se estou no controle
e quando atravesso o medo e a timidez
encontro o silêncio
e sinto algo próximo à plenitude.

Canto por amor
pois assim esqueço um pouco de mim
e me sinto livre para entrar mundo adentro
de peito aberto,
pelas corridas que me são impossíveis
e pela história que quero contar.

Monday, April 26, 2010

Menos

Eu quero ser menos
minúsculo
ínfimo e limpo
sem barreiras egoicas para a vida.

Se eu sorrio ou se eu choro
se eu grito ou se eu soco
se eu levo de volta ou saio impune
não importa.

Quero ser menor
de um tamanho suficiente
para que a sombra  que evoco
seja bem menor que a que hoje sinto.


Minha sombra
minha corrida feito cachorro buscando o rabo
rodopiando, sansareando na roda do mundo
sem centro, sem silêncio, sem paz.

Quero ser menor
pois o amor que sinto
facilmente se perde
no mito do meu narciso.

Vivo à beira do rio
pulo, afogo?
creio que posso sempre escolher:
melhor queimar no sol.

André C.

Monday, April 12, 2010

Impacto

Viver tem a ver com impacto. Naquela hora que você, sujeito tranquilo e "normal" vira a esquina e tropeça numa pedra, toma um balde d'água ou simplesmente ouve. É a hora em que você descobre que o franzir dos lábios era só uma vontade de rir descontroladamente, sem limites, bestamente, felizmente, sinceramente contente sem motivo. As melhores coisas parecem vir do absurdo, do que não se imagina, do impacto que não se esperava. Viver tem a ver com abrir o peito, receber, matar no peito e fazer daquela bola quadrada uma mortal bala rodopiante ou uma inocente bola de plástico que bate sem maior dano. Impacto, cheiro, toque, pele, vibração que evoca em tudo um som. Para tudo há um som. E eu gosto de gente que faz barulho, que grita, que canta, que expressa alguma coisa para o mundo. Olho minha janela. Além dela não há só uma terra devastada, além dela tem gente, tem sangue, sentimento, coração e grito! Impacto de vento contra os cabelos de quem corre. Desembestado.

Saturday, March 20, 2010

minuto de silêncio

um minuto de silêncio
não pelos que morreram
mas pelos vivos
em seu dia a dia ensurdecedor.

o externo conspira
contra o eterno presente.

André C.

Tuesday, January 05, 2010

coração

Encontrei nas minhas anotações algo que escrevi  e que me parece apropriado para o ano novo.

Quando vou começar a escrever sobre a minha própria recuperação? Sobre minha vitória sobre as adversidades e as pessoas que me ajudaram nesse caminho?

I don't belong here. This  sounds like a common motiff in my story as a human being. 
(Eu não pertenço a esse lugar. Esse parece ser um tema recorrente da minha história como ser humano). 
Heal. 
(Cura).

Palavra forte que me dá medo. Medo de acreditar em sua mera possibilidade, orgulho de querer me igualar de alguma forma a Deus num campo de combate. Sou mais orgulhoso que tímido, me conheço melhor hoje. Amor. Essa é outra palavra forte, poderosa. Dela não tenho medo. Tive e sinto que vivi o amor nessa vida. Mas sinto que falta algo. A cura pelo amor. A liberdade por meio do amor. E a idéia de um Deus que me ama é boa demais para ser descartada. É real demais.

The freedom and simple beauty are to good to let it passa by 
(A liberdade e a simples beleza  são boas demais para se deixar passar). 
And love exists in the among both. 
(E o amor existe entre ambos). 
Loyalty is one beautiful value to live by 
(A lealdade é um belo valor para se viver por ele). 

Eu quero esse Deus comigo, um Deus de amor. E o tenho comigo. Sempre tive, nos momentos felizes e tristes. Mesmo quando achei que Ele não estava presente ele estava comigo. Saber que existe alguém que me ama incondicionalmente é algo lindo e saber que esse amor não morre é ainda mais grandioso. Mas eu temo a cura, apesar de buscá-la, medo de novas dores, medo de ter esperança. É tempo de renascer. Tempo de batismo, de entrar na água, no útero aquoso da màe terra para me fazer novo homem. Eu espero e quero mais disso. "Eu vi o amor, ele nunca me deixou. Levo meus joelhos ao chão". Orgulho e medo. Amor tem a ver com uma postura humilde, simples, de receber e partilhar. Uma postura sincera, desarmada e o peito aberto, como na música. Um sonho caro, importante para mim.

Hapiness is only real when shared. All things grow when shared, in the meeting of eyes, such as Love 
(A felicidade só é real quando dividida. Tudo cresce quando é dividido, no encontro de olhares, como o Amor. 

Onde está meu coração? Aqui. Agora.