Ele era grande. Lembro direitinho. Eu achava que ele tinha uns bons metros de altura. Era quase uma árvore. Diziam que ele era bravo. Engraçado que, durante a minha vida toda, eu nunca tinha visto isso. Pra mim ele era uma árvore firme e simpática, algo como o Barbárvore. Quando eu era pequeno e o visitava lá em Oliveira. O que ficou na minha memória é o "quando eu era pequeno".
Quando eu era pequeno, ele gostava de ler revistinhas e uns livrinhos de faroeste, não lembro quais, mas garanto que havia um Tex entre elas. Eu achava que ele era o homem mais sábio de todos, manifestação arquetípica da experiência.
Quando eu era pequeno, ele me dizia que as sementes de girassol que ficava nas telas atrás da cozinha era comida pra passarinho. Que o girassol é que comandava o movimento do sol, numa mitologia bonita. Que o tomate pequeno era venenoso. Eu lembro também de Jornal Nacional, que ele assistia. Ou mesmo jornal impresso, que até os últimos dias ele costumava ler. Já quando eu não era tão pequeno, lembro dele cortando vara de marmelo pra eu e meu primo brincar de cai n'água, no carnaval.
Outra imagem, a mais triste que eu já vi. Meu avô, sentado numa cadeira, ao lado do caixão da minha avó. Muito triste, mas de uma beleza, de uma força incomensurável. O ser humano é belo nos grandes momentos, nesses momentos em que todo mundo é igual. Perante a morte treme mesmo quem acredita. Mas, depois do fim, havia sim um amor, continuava uma ligação forte entre os dois.
Hoje, meu avô morreu. Mesmo sabendo que ele não era tão gigante, afinal de contas, prefiro lembrar com olhos de vinte anos atrás. Os mortos, os nossos mortos, vivem é na memória.
1 comment:
Sinto muito pela sua perda.
Você disse uma verdade bela, jamais morre em quem nós vive...
Somente nós sabemos dos nossos mortos.
Beijo.
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