Blog pessoal de André Camargos, publicitário por profissão e escritor por hobby. Textos diversos como poemas. crônicas, críticas de livros e sugestões de leitura.
Saturday, October 08, 2005
O eu no outro
Então, o que sobra? Quando o que é certo parece assim tão errado que não se pode aceitar. Quando você na verdade questiona o que te faz feliz? Ela era morena, talvez a mulher mais bonita de toda minha vida. Fui apaixonado por ela. Em sonho, meu desejo de vê-la de volta à BH, mesmo depois do ponto final. Ela também gostava de mim. A conquistei exatamente como acredito hoje que as coisas devem ser. Naturalmente, ela passava ou aparecia no mesmo lugar que eu estava e eu sorria. Conquistei-a com um sorriso. Mas como eu poderia naquele tempo simplesmente aceitar, sem luta, sem teatro, sem ser quem realmente me julgava ser? Não. Eu não era o sujeito simpático que sorria, que dizia, que admirava, que se movia. Essa felicidade era só uma máscara, acreditava. Essa máscara era para os outros, esse terrível monstro mitológico que era esse tal Outro. Ser feliz parecia corresponder a cumprir o que esperavam de mim. Avesso a autoridade, isso era assim algo inaceitável. Fazer algo pelo outro, como consequência de ser feliz em si mesmo era apenas seguir o Dharma, a exigência social. Ela foi embora num dia que poderia ter sido perfeito. "Por que ele olha para mim?" O ele era eu. Não, eu não queria enxergar. Ela tinha um nome, Ana C. Estranho dar todo esse salto para admitir o que é certo para mim. Hora de olhar para o homem parado, de terno, homem da palavra. Sou eu. Tão claro mas tão triste. O tempo que poderia ter sido. Nas minhas mãos a capacidade de pintar um Renoir, cores de vida, mas pintei um atormentado Van Gogh. Pensei um dia, "sou narcisista"? Talvez quisesse, o narcisista cabe em si mesmo, se basta. Eu não me basto. Eu desejo o mundo.
Uma lenda. Havia o criador e ele percebeu que, por ter começo, teria fim. Temeu ser morto por alguém mas descobriu não haver ninguém para matá-lo. Então ele sentiu solidão, pois estava completamente sozinho. Criou assim, fruto de seu desejo, as coisas do mundo, incluindo homens e mulheres. Terminou por amar sua criação. Não criei nada, já está tudo ai, é só olhar.
A janela se abre.
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3 comments:
André, tudo que acontece naturalmente tem mais gosto, mais vida, mais contato.
Bjos!
Si
Eu provavelmente não entendi nem metade do que tu queria dizer neste texto. Portanto, não vou comentar o significado dele, mas direi que ele está belo.
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