O Baghavad Gita diz: "tudo o que é real não pode ser destruído." Ontem eu estava pensando nisso, buscando em mim tudo o que há que não me pode ser tirado. Fiz o exercício de me imaginar despido de várias coisas, até o último elemento. Queria e quero encontrar todos os elementos realmente meus, independentes de algo além de mim.
Fui cortanto a carne aos poucos. Sem meu trabalho, sem minha família, sem meu carro, sem mulheres, sem o curso de faculdade, sem amigos, sem conhecidos, sem minha deficiência, sem cadeira de rodas, sem histórias, sem livros, sem apartamento, sem pessoas, sem chuva, dias de sol, sem mundo externo. Sem nada que não coubesse inteiramente em mim. Buscando, em meu centro, aquela esfera indestrutível que sempre me acompanha, que sempre esteve lá.
Nesse ponto, vejo que não tenho nada. A parte disso, sou um monte de coisas.
Nada nem ninguém pode me tirar: minha imaginação, minha experiência e vivências nesse mundo, minha busca pela beleza, minha sempre afiada imaginação, meu corpo. Minha energia, que me circula todo o tempo. Minha poesia e minha expressão. Minha liberdade.
Havia um dragão negro que morava na caverna. Ele tinha tesouros e guardava uma donzela. Mas de nada podia desfrutar: nem dos tesouros muito menos da donzela. Sua missão: guardar e guardar e guardar. Ele era pesado e tinha asas curtas, preso firmemente no chão. Pois eu o vi se transformar, escama por escama, em prata, seu corpo transmutado no de um dragão chinês. Eu o vi partir da caverna, serpenteando aéreo, carregando o herói e a donzela, para longe.
Descobri que a caverna, agora iluminada, não era simples pedra, era na verdade um imenso templo, marcado pela quase eternidade pelas habilidosas mãos de um artista primitivo. Ali aprenderam os feiticeiros a conversar com os pássaros e reverenciar os grandes poderes. Ali, no ventre profundo da terra, se aprendem os símbolos que conduzem à vida.
André C.
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