Saturday, November 18, 2006

Em potência

Spinoza fala do desenvolvimento humano usando a imagem da árvore. A árvore cresce e se desenvolve, partindo de um centro enraizado para alçar as alturas em seu caminho envergado. Seus galhos, orgânicos, se fazem de forma assimétrica, pois assim é o que cresce naturalmente.

Cada pessoa é assim uma árvore. Ela se desenvolve dentro de suas potencialidades, múltiplas já em sua semente. Tudo o que haverá cabe naquele uno mínimo, talvez as tais 21 gramas que pesam a energia vital de seres humanos. Uma pessoa é uma árvore que vai, ao longo da vida, estendendo seus galhos... o limite é de cada um.

Nem sempre há sol para todos ou nutrientes suficientes para permitir o desenvolvimento ótimo. Muitas vezes a árvore que tinha tudo para definhar floresce, pois, além das regras lógicas, sempre existe a surpresa e o mistério do que é o ser humano. Pois a árvore não é apenas uma árvore, ela é o símbolo da divindade. O símbolo do Ser. O ser é aquilo que, no humano, não pode nunca ser destruído.

O ser é o centro, o Deus que é o arquétipo da totalidade presente em tudo o que vive. A identificação com o ser, o real que não pode ser destruído, é a vivência da experiência mística. O momento presente, quando se quebra a dualidade... não se escuta a quebra da dualidade, mas é poderoso, como o big bang, explodindo silenciosamente no vácuo.

Mas é belo o romper do tempo. Como é belo!

O Ser mora no momento, escondido e sempre presente no agora. O medo de perder o momento e o apego ao que, ilusoriamente, se acredita ter, asfixia e mata o ser. Não permite que a árvore renda flores, que espalham seu cheiro e embelezam a paisagem, nem permite que dê frutos, que poderiam ser lançados livres ao mundo.

O momento é uma pétala, o momento é uma rosa. Na natureza das coisas, ele surge e passa, quem teima em mantê-lo preso, enclausurado no caixão da perenidade, vê tal rosa murchar. Rosa que é feita para abrir-se e libertar-se em queda livre. Tentar impedir a ação da gravidade, permitindo a queda inevitável é o mesmo que calar-se, quando a hora é de canto.

André C.

1 comment:

Jess said...

embora dispense comentários..
eu acredito que o ser é dotado de uma caixa de lápis de cor. a centelha divina é justamente quando a ponta do lápis quebra, é nesse momento que ele se renova, é apontado e seu tamanho diminuído.. o maior problema da humanidade é esse medo de diminuir o lápis e muitos acabam morrendo sem dispersar cor alguma, com uma caixa de lápis intacta e nenhum outro vestígio, enquanto o melhor seria caixa alguma e cores flutuantes por toda a parte...

;D