- Tá tudo bem.
Era o que, entre as lágrimas, se podia ouvir. Lágrimas temerosas, envergonhadas, a princípio, como a água que começa lentamente a correr no leito do rio, quando do fim da seca.
- Mas então, o que aconteceu?
Eu poderia comparar as lágrimas às gotas da chuva criadeira. Aquela chuva que enobrece a terra, trazendo o crescimento das sementes. A chuva que cai porque tem que cair. A chuva que cai para esvaziar as nuvens da cor cinza. A chuva que inaugura uma imensidão azulada.
- Tudo aconteceu. Tudo, mas tudo mesmo, ainda que, aparentemente, tivesse parecendo que fosse nada.
Ainda que houvesse no princípio mudez. Mudez feito o caos do início dos tempos, cravado no vácuo. Mudez que não era falta do que dizer. Mudez da dificuldade de tornar em texto a metáfora. Ah, se pudessemos falar em imagens.
Tentei. Eu griteu lápide! Griteu nuvem negra e raio! Gritei dor. Dor que pede bálsamo. E depois de tanto grito eu consegui sussurar: paz. Vida. Sim.
Eu que pensava que pensar era ruim, descobri que pensar é só pensamento. Trarei tal pensamento nos braços, acalentado, feito o menino jesus do Alberto Caeiro.
André C.
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