Blog pessoal de André Camargos, publicitário por profissão e escritor por hobby. Textos diversos como poemas. crônicas, críticas de livros e sugestões de leitura.
Wednesday, June 01, 2016
A Porta
Sunday, May 22, 2016
Inútil
Medir uma vida por sua utilidade significa colocar pessoas no mesmo patamar de máquinas. Coisas existentes para um determinado propósito. Significa acreditar que nossos "insumos" existenciais poderiam ser resumidos apenas a outras coisas e objetos. Significa transformar nosso tempo em uma corrida desesperada para fazer mais, para ser mais eficientes.
Mas não. Humanos que somos, agraciados (por vezes amaldiçoados) com uma imaginação sem limites, com sentimentos profundos, grandes paixões, não nos basta ser eficientes. Nosso porquê existencial, construído ao longo do tempo, uma obra que nunca é concluída, para ser por vezes satisfatório, implica em mais que isso.
A realização, os momentos felizes, aqueles marcantes por sua força, não são assim por deixarem em nossas mãos mais produtos. O amor despertado, a morte se uma pessoa querida não são sentidos por serem úteis, mas por terem um impacto emocional poderoso. Quando alguém importante morre, o que mais nos falta é a própria pessoa, não sua produção.
Acredito que o capitalismo é o melhor é até mais natural forma de se fazer chegar coisas às pessoas, de se prover objetos, inclusive aqueles relacionados a nossa subsistência. Porém, satisfaz uma instância muito rasa de quem somos.
Não nos basta objetos. Por mais satisfeito que um indivíduo fique com suas coisas, ele nesse momento não é diferente de um cachorro que ganhou um biscoito especial. Por mais que uma coisa apele para nosso lado simbólico, com seus apelos e promessas de diferenciação social, não nos torna muito diferentes.
Dizem que quando alguém morre é como se uma biblioteca se queimasse. Mais que isso, não são os livros queimados, mas é aquela voz de um contador de histórias, sua existência única, sem precedente ou impossibilidade de repetição que se vai.
Não quero ser útil, funcional como um relógio, rápido como um hamster em sua rodinha. Quero ser vivo, ter nos olhos chamas e não códigos binários, alimentar aquele ser que se alegra no cheiro da chuva, no desejo de correr desembestado na grama, que se impressiona com a grandeza de muitos e até com a pequenez de outros tantos.
Até que ela venha. Inevitável. E possamos rir dela.
Tuesday, March 08, 2016
Friday, March 04, 2016
Livro - Budismo para Leigos
Nascido na Índia e dai se espalhando pela Ásia, chegando ao ocidente no século XX, especialmente no oeste americano, o Budismo, representado para nós por figuras como o Dalai Lama e, para alguns, pelo monge vietnamita Thich Nhat Hanh, ambos laureados pelo Nobel da Paz, atrai curiosos e adeptos de todas as partes do mundo. Seja na figura do mestre zen engraçado ou na famosa tradição da perfeição japonesa, suas ideias e conceitos atraem pessoas muito diferentes, incluindo aparentemente opostos como ateus e religiosos.
De minha parte, o que me atrai no Budismo é o fato de ser uma religião (ou filosofia) bem humorada e viva, muito distante da sisudez e seriedade pregada na maioria das outras, além de aceitar a convivência plena com outras tradições, sem necessidades de autoafirmação e aberta para qualquer pessoa.
Para saber mais sobre o tema, o livro Buddhism for Dummies (traduzido de forma sem graça como Budismo para Leigos) é uma obra surpreendente. Faz parte de uma série que se propõe a explicar um tema desde seus conceitos básicos. Como eu nunca tinha lido nenhuma obra dessa coleção, o que me surpreendeu foi a abrangência do conteúdo, ao mesmo tempo apresentando o básico sobre Budismo mas se aprofundando de forma bem completa em quase tudo sobre o assunto.
Friday, February 19, 2016
Thursday, February 18, 2016
Imagens 2 - Sobre a compaixão
Eu nunca o tinha visto chorar. Engraçado que não me lembro de como estava o rosto dele. Era um lamento bem maior, quando se chora com o corpo, não apenas com os olhos e tudo em nós se torna uma expressão de tristeza. É estranho quando vemos uma de nossas referências dessa forma.
Tuesday, January 19, 2016
Perguntas
O mundo é justo?
O mundo é injusto.
O mundo é injusto?
O mundo é o mundo?
O mundo é o mundo.
O mundo é.
Somos seus ouvidos,
seus olhos,
suas testemunhas passageiras.
Mas não somos sua única voz.
Somos um breve sussurro,
a parte de um canto,
notas breves de uma partitura
de uma história maior.
Sunday, January 17, 2016
Sentidos
Somos os sentidos do mundo. As testemunhas do que se passou e do que acontece em nosso universo. Sem o ser humano não haveria quem olhasse, quem sentisse ou quem registrasse a existência. Não haveria um sentido a ser afirmado e o universo não teria voz, olhos ou ouvidos.
Friday, January 15, 2016
Uma gota
tira tudo de você.
Vão suas roupas, corroídas,
sua respiração, que enfim pára.
Suas forças, pernas e braços,
seus sentidos.
Tudo se vai, é despido
Mas e se, na verdade,
não há o que ser tirado?
Tudo que é seu
não é muita coisa
se "você", "eu" e "nós"
por fim, não existem.
Citando o espanhol Machado,
o que é uma gota de água
que grita ao mar:
"eu sou o mar"?
Wednesday, January 06, 2016
Livro: Why Nations Fail
Dizem que, mais importante que a resposta, é a pergunta que fazemos. Pra mim, um dos grandes questionamentos que tive (e ainda tenho) é o motivo da existência da desigualdade e da pobreza e o porquê de tantas diferenças, principalmente econômicas, entre (e dentro de) países do mundo.
Quando fui procurar explicações, o que encontrei foram lugares comuns compilados e misturados com preconceitos, ideologias, religiões etc. Nenhuma delas fez muito sentido para mim, atribuindo essa miséria a causas metafísicas, ou numa visão torta, culpando exclusivamente o próprio indivíduo, ou o fato dele ser de uma ou outra nacionalidade, dentre outras visões.
Então encontrei esse livro para o Kindle na Amazon.Escrito pelos economistas Daron Acemoglu e James Robinson, “Por que nações fracassam” (Why Nations Fail) propõe uma ideia interessante, que é esmiuçada e detalhada ao longo dos capítulos.
O conceito central é que nações prosperam ou fracassam devido à sua capacidade, ou falta dela, de construir instituições que representem diversos setores e interesses da sociedade, garantindo uma dinâmica em que não haja hegemonia de uma única parte sobre todas as demais.
A evolução dos países de sistemas políticos autocráticos para aqueles mais participativos, se dá a partir da luta de setores, a princípio à margem da sociedade, para conseguirem poder e influência de fazer valer sua voz, sua participação.
Tuesday, January 05, 2016
Cor
Ele se perguntava se um dia aquela realidade se tornaria tão opressiva que ele explodiria. Os carros, a rotina. A natureza sufocada, oprimida pelo concreto. A cidade, concreta demais. As pessoas, concretas demais. Ele mesmo, físico demais.
Alguns até tentam pintar o concreto, mas o cinza paulista sempre predomina, com cores aplicadas sobre sua superfície tomando invariáveis tons sem graça. Ele nunca gostou também dos tons pastéis, pois era como se as cores estivessem envergonhadas de si mesmas.
Que o verde seja verde! E o vermelho, realmente rubro. Que a cor do mundo, da vida, vida mesmo, dê a sua graça. Ele também sabia, mais que tudo, que a melhor tinta de todas sempre foi a imaginação. Que tudo era sempre diferente, mesmo quando não parecia.