Monday, December 26, 2005

O que eu acredito, parte 2

Acho que ideologias não fazem mais sentido, não do jeito que eu vejo estruturado em movimentos e partidos, como comunistas, socialistas e mesmo capitalistas. Burgueses e trabalhadores, ricos e pobres. Não sei mesmo se a idéia de esquerda faz sentido. Acho que não. Acho que muita gente se diz de esquerda por conveniência, por achar mais bonito dizer que é de esquerda. Por acreditar que a esquerda é a parte mais justa e libertária. Isso é uma imensa bobagem. Os valores de justiça, liberdade, autonomia e busca por felicidade não pertencem a ideologia nenhuma, existem por si mesmas.

Estruturalmente, pode-se dizer que o capitalismo venceu. Venceu como se tivesse havido uma guerra e o capitalismo, pai de todos os males, tivesse derrotado uma tendência boazinha e natural do ser humano.

Qualquer um que analisar a história, ir até antes da Grécia e Roma, vai perceber que o dinheiro, os mercados, o Estado e o capitalismo nasceram de forma espontânea. Nas atividades diárias de grupos diversos. Vale destacar que “espontâneo” e “natural” nada tem a ver com julgamento de valores. Para o bem ou mal, não existe um estágio de vida mais inocente a ser recuperado. Não há paraíso nem cristão nem anarquista a ser retomado.

O mundo seguiu o caminho que tinha que seguir e assim continuará sendo, independente do que se diga. As coisas se constroem com o tempo e o desenvolvimento do pensamento humano, e a participação individual do homem é mais um abraçar dos valores do tempo em que ele vive, que propriamente um agir revolucionário. O homem age dentro dos valores do próprio tempo e o que ele pode fazer é adiantar o devir, procurando descobrir que novos valores o mundo e o tempo virá pedir dele.

Quando eu digo isso quero dizer que sim, vivemos num mundo capitalista, mas afirmo também que esse capitalismo em si já de transformou. Quando a gente enxerga as tendências de responsabilidade social, por exemplo, que é basicamente a injeção de valores mais humanos na existência do capital, o que a gente vê na verdade é uma abertura.

O que eu percebo hoje é que abraçar o próprio tempo é necessário. Que teimar em agarrar-se a um passado é uma atitude profundamente anacrônica e além de tudo, pouco útil. Pouco faz para diminuir as diferenças sociais entre indivíduos, porque se permite atrasar ainda mais a promoção de melhorias para todos, pois tudo fica sempre para depois de uma eventual revolução.

O mundo é em parte uma realidade da qual não se pode escapar e em parte os valores que a gente injeta no mundo através de nossa ação cotidiana. Um híbrido entre o que temos disponível e a nossa força de promover o devir.

Creio hoje que é necessário diminuir as desigualdades. Pelo simples fato de haver gente que ainda morre de fome e não tem recursos para se manter com dignidade. E fico sim horrorizado quando ouço notícias de gente comprando bolsas de vinte mil reais, por considerar injusto. Creio que se um sujeito pobre pudesse viver bem, com condições dignas, a existência desses tão ricos não me incomodaria nem um pouco. A lógica é bem simples: se os recursos somam 100, se um cara tem 99, o outro necessariamente vai ter 1. Se 50 a 50 não é possível, então que pelo menos, em vez de 99, o sujeito rico tivesse 70, sobrando 30 pro outro.

O que é necessário é que esse sujeito que tem 0 ou só 1, tivesse um tanto mais para que pudesse viver de forma independente e digna. O que faz um sujeito ter recursos para viver? Acho que a resposta é simples: renda. E como ele obtem renda? Através de um trabalho qualificado e pago com justiça. E como ele consegue isso? Através da educação. Por fim, tem-se assim, a busca da solução através da geração de trabalho e renda.

Creio que, a princípio, deve-se estabelecer um sistema de ensino que transmita conhecimentos técnicos em faculdades e que prepare o jovem para trabalhar com um mundo mais pragmático. Que ele aprenda mais coisa que possa ser aplicada diretamente na realidade. Que ele aprenda a entender melhor as demandas profissionais do mundo, de forma a poder ter recursos para, num primeiro passo, resolver suas necessidades materiais.

Por que primeiro passo? Porque satisfeitas as necessidades básicas, de subsistência, de fundo material, o sujeito poderá partir para novas buscas. Resolvida a necessidade material básica, cada um estará livre para buscar os valores que realmente importam para sua vida individual. Promover mudanças e transmitir valores novos para as próximas gerações, num efeito multiplicador.

Está longe do mundo utópico perfeito, em que cada pessoa estará livre e terá conhecimento suficiente para escolher o próprio caminho. Em que a tecnologia será pensada antes de ser adotada num frisson estúpido. Em que cada sujeito poderá se voltar para si mesmo, tendo apoio de outras pessoas, na busca de seus próprios significados. Mas é o começo. É o rumo que o rio segue. É a forma como as coisas são, à parte do ressentimento contra um mundo que não tenha respondido às nossas expectativas.

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