Desconfie de um homem despido de inocência.
Alguém incapaz de sentir nas coisas
o gosto da primeira vez.
Na amada, a primeira namorada,
com bons olhos de menino.
No sorriso do amigo, aquele tempo passado
quando costumavam jogar futebol de botão.
No irmão, hoje com dezoito, o tempo
em que ele tinha apenas um mês
e abriu os olhos pela primeira vez.
Do avô, hoje aos noventa e cinco,
numa época em que ele lia revistas de faroeste
e cortou vara de marmelo,
pra se brincar de cai n'água.
Do pai, que só uma vez foi visto chorando
e ele era menino de novo, passados tantos anos.
No sorriso do reencontro,
Nas declarações inesperadas,
No choro, bem recebido.
No te amo que você não sabia,
Nas letras e nas poesias,
No silêncio que é presença,
No perfume, que virou ausência,
Na beleza, que é de graça,
Na voz, depois do alô, adocicada.
Na idéia de que, em tudo sendo,
tudo é um devir de ser.
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