Ele foi uma das pessoas mais interessantes que conheci. Passou rápido pela minha vida, mas posso dizer que foi um grande amigo.
Nasceu em Portugal e com seis anos foi para a França. Viveu na época das grandes bandas de rock e pode acompanhar, ao vivo, e cruzando o velho continente de trem, Led Zepellin, Rolling Stones e Deep Purple.
Me contou que, quando veio para o Brasil, queria estar em um lugar em que não bastaria parar numa estrada e esticar o braço para se transportar pra outra cidade ou país. Acho que ele tinha um impulso incontrolável que o fazia nunca fincar raízes, combinado, ai mesmo tempo, com um desejo de sim, ficar em algum lugar.
Com o tempo percebi que pessoas marcantes muitas vezes parecem incoerentes, paradoxais, aceitando em suas vidas essas aparentes contradições mas que apenas nos fazem ser mais humanos.
Seguindo a tradição lusitana, veio para o Brasil, ficando impressionada quando ouviu o Fado Tropical de Chico Buarque, para ele muito fiel ao estilo musical mais tradicional de Portugal. Acrescentou ao rock a música brasileira e suas variantes.
Fez sua vida aqui, se tornou naturalmente professor de Francês e depois se especializou em traduções de textos de psicanalíticos de Lacan.
O conheci, nos aproximamos pela música e pude ver em sua casa uma imensa coleção de cds variados, que ele foi me emprestando aos poucos, enquanto íamos conversando.
Sempre me chamou a atenção sua sinceridade, lealdade como amigo, espírito de liberdade e fidelidade a si mesmo, tudo sempre demonstrado com clareza. Tinha também aquela capacidade européia de ser simples e de olhar as pessoas pelo que elas são, gostando ou não, sem fazer concessões.
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