As quatro da manhã morria de um ataque cardíaco fulminante o pintor Dominique Ancour. Além de seus dedos carcomidos pela tinta e sua barba eternamente por fazer, imortalizada nas caricaturas e numa grande homenagem imóvel, posta na praça dos Quinze, Dominique levava para a tumba o maior segredo de sua arte.
Já havia muitos anos que acadêmicos e membros da plebe debatiam por um sem fim de tempo o que era sem dúvida o maior segredo de Ancour. O que começara em uma simples percepção de um observador na galeria, tinha se transformado em teses que transformaram mestres em doutores, não só em história da arte, mas para na psicologia, filosofia e ciência política. Dominique fora descarnado, desconstruído e reerguido por diversas vezes, num encontro de porquês dos mais variados matizes.
Mas quem tinha a resposta final? Para os historiadores, via-se a inovação da dinâmica surgida da multiplicidade de perspectivas e potencialidades entre o apolíneo e o dionisíaco, numa perspectiva amoral. Enquanto que os cientistas políticos viam a síntese monádica da inexistência de fronteiras que outrora definiam a polaridade de um mundo. Os psicólogos viam obviamente um trauma, e a arte como sintoma da mente de um novo homem, que para os filósofos Nietszcheanos era a viva encarnação do Zaratustra.
O mais curioso é que o tal fenômeno acadêmico atingira, como nem Dali o tinha feito antes, a sociedade dos homens comuns. Era algo estudado então pelos sociólogos, pois Dominique Ancour levara a grande arte novamente ao mundo. Das criptas e sarcófagos dos intelectuais, do prazer auto-erótico da teoria, surgia algo capaz de atiçar a curiosidade dos leitores e homens comuns.
Ancour morreu sem dar resposta à grande pergunta de sua vida: o quadro estava ou não de cabeça para baixo?
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