Saturday, September 10, 2005

Mudanças

Desde sempre eu tive uma fé enorme na mudança, na capacidade que um ser humano tinha de se transformar em alguma coisa, no compromisso com o futuro que todo mundo tinha e que isto era algo que nos acompanhava como uma tatuagem, ou que corria no sangue, lá na raiz mesmo, no nosso DNA. Anos foram se passando e o choque para a vida adulta começou a desmistificar e destruir praticamente tudo o que eu acreditava. Uma por uma, foram sendo jogadas no lixo várias e várias coisas que eu pensava, minhas crenças, meus ideais e mesmo os meus sonhos. A mudança, último alvo, também acabou por ruir.

Mas acredito num processo de destruição criativa. O que aconteceu em mim foi algo profundamente necessário, algo inevitável, com um momento certo para acontecer. Sou um tanto adepto do caos. A destruição sem sentido não serve de nada. Mas a destruição que acontece para erigir algo em seu lugar, como a queimada que enriquece o solo para dar novas safras, ou para o plantio de novas culturas, tem seu sentido. Se há algo que nesse mundo eu considere sagrado é essa capacidade de morrer e renascer que nós temos.


O mais curioso de tudo é que há algum tempo eu tinha uma boa idéia de que tipo de pessoa, de que tipo de homem eu ia me tornar. Só que a gente nunca sabe como será o futuro, pois a nossa mente no futuro não pode ser pensada no agora. É olhando para trás que a gente vai conseguir um senso de processo, uma idéia do que aconteceu. Um professor meu disse que é difícil prever o futuro pois o paradigma do futuro é diferente daquele do presente. O modo de pensar do presente não é o modo de pensar do futuro. Heis a mudança realmente radical. Olhando para trás entendo que eu pensava diferente ou, na verdade, eu não me conhecia muito bem para me entender o suficiente.

Ter um senso poderoso de identidade é algo que mexe fortemente com as pessoas. Quando a gente percebe que precisa abaixar o volume do mundo externo e nos focarmos em nós mesmos, entendendo como funcionamos, ficamos mais livres. Liberdade é, no fim, um senso de si mesmo inabalável. Um atleta quando faz uma performance grandiosa o faz não só por estar condicionado fisicamente, mas por ter conquistado um senso de consciência. Ele percebe em si mesmo um centro, um ponto fixo, que lhe serve de apoio.

Gosto de pensar que esse centro é como o olho de um furacão. Tudo em volta pode estar girando mas ali, no centro, as coisas continuam tranquilas e sob controle. Tudo pode ser destruido, lançado para fora do seu centro original. Aqueles que reconhecem em si mesmos um centro não serão lançados contra os próprios desejos na tempestade, de um lado para o outro, rodopiando continuamente. Apesar de poderem se relacionar com o ambiente externo, eles não estarão submetidos a todos os efeitos das intempéries pois haverá sempre para onde voltar.

Acho que, no fundo, a gente muda menos do que acredita. A mudança que a gente percebe está muito mais no reconhecimento do que realmente somos. Está no autoconhecimento. Mais importante de tudo é que esse autoconhecimento só acontece com a experiência, com a prática. A experiência, não uma experiência meramente cronológica, pois tem gente que apesar de velho no fundo não aprendeu tanta coisa, nada do gosto, da cor, do cheiro e do sentimento. Tudo o que, no mundo, tem primazia.

1 comment:

Anonymous said...

Interessante este texto.

Gostaria apenas de comentar que uma outra coisa me parece possível: ao encontrar o conhecimento de si mesmo, ter um furacão invertido, onde apenas o olho é turbulento... quem vê de fora, não vê nada. :)