Sunday, September 18, 2005

O Morto II


Ainda meio grogue, levantei do chão, apoiando a mão esquerda no banco verde da praça. Limpei a poeira que se depositava em minha roupa e estava pronto para outra. De pé, olhei para frente. Ele estava de costas para mim, caminhando em seu terno bem cortado. Gargalhei, gritando "Ei!!! Olha pra trás..." Quando ele se virou, recebeu a coronhada no nariz e caiu no chão. "Esqueceu o revólver..." disse novamente e com um novo golpe, ele rolou no chão. O terno não estava mais tão bonito como antes. Olhei para o chão, ele tinha agora o rosto vermelho de sangue e eu também. Me ajoelhei e cuspi avermelhado. Tinha esquecido. Nos levantamos, prontos para um ataque cara a cara. Um tiro em troca de uma coronhada. O inconsciente fazia com que a troca fosse justa. Enquanto avançávamos, como deuses do Valhalla, incitados pelo prazer da guerra e morte, ouvimos uma terceira voz: "Parem. Agora." E era o desejo incondicional e sem resistência de um garoto. 10 anos devia ter, no máximo. Parado, sozinho, ele nos olhava, com certa raiva despertada. Encontravam-se o Vendedor, o Artista e o Garoto. O entendimento se fazia completo, sem mais nenhuma palavra.

À frente, na avenida, virando a esquina, um tanque de guerra, acompanhado de soldados. O volume do mundo se agigantava e o Garoto perguntou, se escondendo atrás do banco: "Por quem vocês vão lutar agora?"

O Vendedor e o Artista de reuniram, apertando mãos e correram para a frente. Rápido como um pensamento, desarmaram um dos guardas, transformando os outros em poeira. O tanque, com um desejo, foi cingido por um raio.

Thor e Loki. Apolo e Dioniso. Melkor e Manwë. Deus e Lúcifer.

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