Sinceridade, palavra tão simples, mas que apesar de tão aclamada tão pouco parece aparecer. Digo por mim mesmo, sem necessidade de melodramas. Talvez o conceito de sinceridade seja um pouco mais complexo. Sou sincero quando sou parcial? Creio que não. Mas como seria sincero escrevendo, se sou incapaz de abarcar na minha escrita toda a realidade que me toma e me envolve agora? Ou posso acreditar em níveis de sinceridade, como uma cebola de camadas várias? Penso se minha sinceridade deveria agora incluir meu maior incômodo. Digitar anda ficando mais difícil, conforme meus dedos se desaceleram. Antes eu não escreveria um livro por acreditar que não havia o que escrever. Hoje já enxergo um limite físico. Então, obrigar um leitor a desviar-se do texto e olhar para quem escreve, é ser sincero? Meu senso crítico tende a chamar certas sinceridades de melodrama.
Nesse momento minha atenção se aponta para algo diferente. Penso sobre o espaço que existe entre duas pessoas. Penso na trivialidade que se costuma usar no lugar do silêncio incômodo e inconveniente que naturalmente poderiam surgir. Penso na decepção de tentar quebrar o espaço, mas não ser bem recebido. Aconteceu. Me descrevem normalmente como um sujeito fechado e aprendi o que isso quer dizer: eu falo para encobrir o silêncio, falo para desviar o foco do que realmente importa. Constatei, sem muita tristeza: não conheço muita gente com a qual desejo quebrar a distância, nem dentro, nem fora de minha família. Vejo que conta mais o desejo de dizer que a recepção que se pode ter de uma contraparte.
Sempre olhar a vida de frente, hoje ouvi no filme. Reconhecê-la pelo que ela é. Encarar as horas. As horas que nos seguem antes e depois do agora, implacáveis. Descrever sempre em palavras o mais banal, pois dele pode surgir algo diferente. Olhar as pessoas, ouvindo não apenas o que é dito, mas o que se esconde. Ai vive a humanidade, alguns dedos longe da banalidade. Ser humano parece ser habitar lacunas. Nas lacunas encontrar pistas da vida que se deve levar, tendo atenção para não se viver a vida de outro, a vida que não cabe ao indivíduo. Fico pensando se não sou impostor da minha própria vida. Pensando se chegarei num limite em que duas escolhas se desenharão: morrer ou mudar e seguir. Morrer para morrer ou morrer de forma ritual, para ressuscitar.
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