Friday, April 28, 2006

Quanto a escrever...

Como diz a Clarice Linspector, em a Hora da Estrela:

"quanto a escrever, mais vale um cachorro vivo."

A verdade da experiência de viver.

E eu digo: só sei o que eu vivenciei.

You Can Never Go Home

I Don't Know What I'm Searching For
I Never Have Opened the Door
Tomorrow May Find Me At Alast,
Turning My Back On the Past,
But, Time Will Tell, of Stars That Fell,
A Million Years Ago.
Memories Can Never Take You Back, Home, Sweet, Home.
You Can Never Go Home Any More.

All My Life I Never Really Knew Me Till Today.
Now I Know Why, I'm Just Another Step Along the Way.

I Lie Awake For Hours, I'm Just Waiting For the Sun.
When the Journey We Are Making Has Begun,
Don't Deny the Feeling That Is Stealing Through Your Heart.
Every Happy Ending Needs to Have a Start.

All My Life I Never Really Knew Me Till Today.
Now I Know Why I Am Just Another Step Along the Way.
Weep no More For Treasures You've Been Searching For in Vain,
'cos the Truth Is Gently Falling With the Rain,

High Above the Forest Lie the Pastures of the Sun,
Where the Two That Learned the Secret Now Are One.

The Moody Blues



A verdade está gentilmente caindo com a chuva.

Egípcia

A Rosa

Arrasa o meu projeto de vida
Querida, estrela do meu caminho
Espinho, cravado em minha garganta, garganta
A santa, às vezes troca meu nome, e some
E some nas altas da madrugada
Coitada, trabalha de plantonista
Artista, é doida pela Portela, oi ela
Oi ela, vestida de verde e rosa, a rosa
A Rosa, garante que é sempre minha
Quietinha, saiu prá comprar cigarro
Que sarro, trouxe umas coisas do norte, que sorte
Que sorte, voltou toda sorridente
Demente, inventa cada carícia
Egípcia, me encontra e me vira a cara
Odara, gravou meu nome na blusa, me acusa
Me acusa, revista os bolsos da calça
A falsa, limpou a minha carteira
Maneira, pagou a nossa despesa
Beleza, na hora do bom se queixa, me deixa
A gueixa, que coisa mais amorosa, a rosa
A Rosa, o meu projeto de vida
Bandida, cadê minha estrela-guia
Vadia, me esquece na noite escura, mas jura
Que um dia volta pra casa.

Chico Buarque, falar o que mais?

Destaquei o verso mais matador. A imagem é perfeita, egípcia: todos aqueles desenhos de perfil nos hieróglifos. Pior é que ainda gosto de uma garota que tem algo de egípcia. Só que eu nunca tive pedra de roseta capaz de decifrá-la. Aliás, até outro dia eu não sabia o que era pedra de roseta hahahaha. Na verdade nem precisa, não há nada o que decifrar. Ou é, ou não é. É estranho entender outra pessoa pela semelhança que ela parece ter com você.

Como não foi nem será basta o deixar passar. Natural. Fica o Pessoa em sua mais interessante faceta: um dia amei mas não fui amado de volta. Pelo único motivo que existe: não tinha que ser.

Thursday, April 27, 2006

Burnout

ou esgotamento existencial.

Cansei de mim, como quem se cansa de respirar num quarto sem janelas nem portas, com quatro paredes brancas e abafadas. O branco permite que tudo, como se fosse tela, seja imaginado e projetado. Mas e o real? Perde-se, sempre lá fora. O lá fora termina por ser imaginado apenas, faltando-lhe substância e vivência. As lutas acontecem no ringue e não nos vestiários ou na confecção das luvas do boxeador.

Cansei de mim pois busco o outro. Jung diz que existem dois tipos básicos de pessoas, aquelas introvertidas e as extrovertidas. Esses dois tipos básicos se conjugam com quatro características - pensamento, sentimento, intuição e sensação. O desenvolvimento rumo ao Self, a individuação, tende a equilibrar essas funções, apesar de, na raiz, sempre termos um lado predominante.

O extrovertido é aquele que corre para o objeto de seu desejo, sem ter uma relação de conhecimento ampla de sua paisagem interior. O introvertido olha para o objeto e o reveste de uma capa, algo que ele projeta sobre esse objeto.

Pelo desconhecimento, o Extrovertido que mergulha em si mesmo encontra terreno virgem, não experimentado, recebendo esse "interior" de forma positiva e com certa inocência. Com o Introvertido, quando entra no mundo exterior, acontece algo semelhante: o mundo de fora é belo, novo e sem vícios.

Talvez por isso eu nunca tenha deixado de ter fé nas pessoas, por mais ameaçador e difícil que eu considere esse tal "outro". Talvez por isso eu tenha resolvido criar uma janela e uma porta, com sangue, nesse quarto fechado. Eu nunca ouço ninguém, por fim. Se ouço é por preguiça, passividade e conveniência. Eu não costumo olhar para fora, como se o mundo fosse quase minha criação e tivesse que ter as minhas regras.

O que acontece quando se descobre que você não é bonzinho, ou justo? Eu rio. Rio por desvelar um mistério, rio de ter encarado a minha sombra, rio por ver além da névoa. Rio por confirmar o que eu sempre achei ridículo no cristianismo: que a dor ensina, que olhar para o outro é a salvação para o si mesmo e que esse outro, para além do ego, é a totalidade do ser. Isso é o que chamam Deus, sem saber: a vivência do Ser, a experiência mística, individual e intransferível, que a ignorância transforma em dogma religioso. A ignorância e a covardia, o niilismo que nega a vida, como diz Nietszche.

O caminho para o Self é de transformação, de alquimia, de desvelamento, de inacabamento, de dissolução, de coragem perante a destruição. Da formação de um terceiro elemento, inesperado.

O que se aprende quando se percebe que só uma pessoa não basta? Que sim, uma pessoa consegue bastar a si mesma, ser autônoma completamente, pois por fim ninguém precisa de ninguém. Mas que vida pobre essa, pautada por mera necessidade, por mero "precisar de alguém". Tanto quem precisa quanto quem não precisa tem uma vida pobre.

Ninguém precisa de ninguém. Portanto muito, muito mais que precisar, melhor é querer caminhar com o outro, ter isso por desejo e afinidade.

Saturday, April 22, 2006

O chão é verde

Já passou o ceifador. Resta aquela calma de vento combinada com verde, sopro e movimento nas colinas, silêncio todo feito de altitude. A cidade, desolada, é só um poema triste. Não há nada, ainda, mas todos os elementos estão ali, em potencial. Assumo como verdade, por enquanto, o que posso sentir. Há apenas a música sussurando, rodopiando natural; há também o crescimento das sementes, que apontam, antes mesmo de saber, para o céu. Eu sei tanta coisa, sem precisar saber, sentindo apenas o gosto, vendo a cor, sentindo o cheiro... eu sei muita coisa sem entender. Basta a compreensão e mais nada. Sei também que no término de tudo está o sim, pronto para a partida, de malas prontas, feito companheiro de estrada. Gentil e pequeno, mas poderoso, feito o Cristo do Alberto Caeiro, que vive, come e dorme sem dogma nem cruz nem obrigação de se matar. Para o niilismo pseudo-religioso que foge do mundo e tem vergonha da natureza das coisas basta que se mostre a língua.
Parafraseando: o diabo, na rua, no meio do redemunho.

Desaniversário

Esse negócio de aniversário é engraçado. Depois de um certo número de anos, foi virando uma data meio comum. Com óbvia vantagem de ser feriado. Achei que ia passar batido. Dessa vez, porém, cai no conto da "reflexão pré-aniversário", como se a data tivesse me puxado para dentro. Só que como eu acredito em coincidências, talvez tenha sido só uma parte de um processo mais longo, que continua.
Por outro lado, um sentimento muito bacana perdurou. Tem algo de muito legal quando você chama pessoas e todo mundo aparece. Quinta foi um bom dia, de rever pessoas importantes na minha vida. Ficou, assim, um ensinamento para um cara solitário e meio lobo da estepe. É um ótimo momento para aprender a andar em matilha novamente.

Tuesday, April 18, 2006

Não-dizer

Quando não se tem palavras, cai bem um silêncio.

Me incomodava o silêncio, era inconveniente e fraco.

Hoje, meu silêncio é um grito. Sempre foi.

Fazendo paráfrase de JC, sujeito ético além de velho amigo do bom coelho da páscoa: quem tem ouvidos que ouça.

Monday, April 17, 2006

Libertas,

Da dissolução vem por fim alguma coisa. Sentimento diferente, de paz de guerreiro, conquistada por mérito. Um silêncio de quem se permite dispor das palavras, por não precisar dizer nada a ninguém e que, por isso mesmo, diz.

Um senhor que não é imperador, mas sim livre e solitário, por isso mesmo próximo de todos, por afinidade.

A dor mostra seus ensinamentos no corpo, e trinca a alma, feito vidro apedrejado. O vidro cai, bambo que estava. Só que ninguém percebeu a queda. E não importa. Como o leigo, destreinado, que não houve a sutil mudança de timbre do cantor.

Profético. Um libertas quae sera tamen adiantado.

Um bom presente.

Insight

A fé é uma fantasia.

Saturday, April 15, 2006

Seawinds

Letra e música perfeita. Mineiro tem mesmo saudade do mar desde pequeno.

Seawinds

In Cold And Dark December
As I Walk Into The Rain
Sit Beside The Room
All Night Long

In A Grey december Morning
I Decide To Leave My Home
Took A Train To Nowhere
Far Away, Far Away

Many Thousand Miles Away
Where The Moon Took To The Stars
Dreamed About The Days
Days Gone By, Days Gone By

In The Night, The Seawinds Are Calling
And The City, Is Far Far Away
Soon, The Sea Turns To Darkness
It Is Night, And Seawinds Are Calling
Seawinds Call, Seawinds Call

Ten Tousand Miles Away
Where The Moon Took To The Stars
I Dreamed About The Days
Days Gone By

I've Been Told So Many Stories
And Dreams My Friends Have Made
So It's No Illusions
Sail Away, Sail Away

In The Night, The Seawinds Are Calling
And The City, Is Far Far Away
Soon, The Sea Turns To Darkness
It Is Night, And Seawinds Are Calling

Friday, April 14, 2006

a arte

Pois o samba é a tristeza que balança
e a tristeza tem sempre uma esperança
a tristeza tem sempre uma esperança
de um dia não ser mais triste não.

Cuidado, companheiro
a vida é pra valer
e não se engane não
a vida é uma só.

A vida não é de brincadeira
a vida é a arte do encontro
apesar de ter tanto desencontro nessa vida.

Mil Peças

Estou me sentindo perdido, completamente. Se alguém me viu por ai, favor informar pois eu não estou encontrando. Qualquer pista serve, mesmo um tanto daquela cinza que sobrou depois do incêndio... estranho, eu não sabia o que andava acontecendo. Agora entendo, como imagem. A impressão é que havia uma cidade com prédios. Agora parece que uma força avassaladora simplesmente varreu o chão.... como uma bomba atômica, mas sem os efeitos colaterais da radioatividade. O chão agora ou é verde, natural e vasto, ou cinza, desértico e com poeira negra. Prefiro o primeiro. Cai do céu, rasgando o véu da fantasia, cansado da irrealidade. Penso no meu caso com as palavras, sempre conflitante. Mas depois de renegá-las, pois as acreditava inúteis, as tomo de volta.

Venho de um processo longo. Parece que análise funciona assim: você pega tudo o que conhece e cutuca, vai cutucando, até tudo ruir, e você vai largando coisas, deixando pra trás, pois você não sabe se aquilo é realmente seu, faz parte de sua identidade... tudo, tudo mesmo, vai caindo e, no fim, começa o silêncio, sem sentido, sem vontade, sem porque aparente.

Estou no silêncio, mas começam a surgir coisas esquecidas, trazidas de volta à baila. Escrever coisas me definia. Viver nos detalhes, buscando loucamente as entrelinhas. Virou um elemento, uma peça que parece caber nesse quebra-cabeças que leva meu nome. Onde andam as outras?

Lonely Stranger

I must be invisible;
No one knows me.
I have crawled down dead-end streets
On my hands and knees.
I was born with a ragin’ thirst,
A hunger to be free,
But I’ve learned through the years.
Don’t encourage me.
’cause I’m a lonely stranger here,
Well beyond my day.
And I don’t know what’s goin’ on,
So I’ll be on my way.
When I walk, stay behind;
Don’t get close to me,
’cause it’s sure to end in tears,
So just let me be.
Some will say that I’m no good;
Maybe I agree.
Take a look then walk away.
That’s all right with me.

Thursday, April 13, 2006

Diz o Campbell

Eu não busco um significado para a existência.

Eu busco aprofundar minha experiência de vida.

Afirmação

Tudo nessa vida começa com um sim. E acaba terminando, num sim que aponta para um novo caminho. Mas o depois, ah! o depois é sempre daqui a um bom tempo. Agora é gosto de começo, de princípio. Agora é o que existe e o que toma o meu campo de visão são uns palmos apenas. Uma vez eu estava num carro, imerso no nevoeiro. O motorista e todo mundo com medo e eu achando aquilo uma maravilha. Era emocionante pois a cena me mostrava que a gente está sempre no limiar de uma ruptura, de uma mudança. A questão que me deixava com gosto de expectativa na boca era na verdade uma pergunta: quem ou o que surgiria vindo da névoa?

Wednesday, April 12, 2006

Sangue Latino

Jurei mentiras e sigo sozinho, assumo os pecados
Os ventos do norte não movem moinhos
E o que me resta é só um gemido
Minha vida, meus mortos, meus caminhos tortos,
Meu sangue latino, minha alma cativa

Rompi tratados, traí os ritos
Quebrei a lança, lancei no espaço
Um grito, um desabafo

E o que me importa é não estar vencido
Minha vida, meus mortos, meus caminhos tortos,
Meu sangue latino, minha alma cativa.

sem título

Recém saído de um estado de estar de saco cheio de tudo, com o corpo cansado de quem parece ter tomado um porre violento. Somos um amontoado confuso de sentimentos, pensamentos, lembranças, frases, xingamentos, alegrias e tristezas. Tem hora que é difícil entender como a gente acorda, como o sistema consegue dar boot apesar dessa zona toda.

Ontem me imaginei rasgando papéis. Eu era um contrato, assinado por não sei quem. Eu estava me rasgando, em muitas e minúsculas partes, para depois atear fogo loucamente em cada uma delas. Sobravam as cinzas e me pintava a dúvida. O que fazer com elas? Renascer ou soprar pra longe?

Deus, evolução, equilíbrio. Essas palavras queriam dizer alguma coisa pra mim há não muito tempo. Não fiquei amargo, nem sei se fiquei mais real, mas o que posso fazer contra essa simples verdade: palavras que eram gritos de liberdade viraram meros sussuros.

Palavras. Melhores como consequência que como causa. Primeiro sentir, tocar e vivenciar. Quero experiências com menos palavras, com menos pedras no caminho. Tudo guarda em si uma possibilidade mística, como experiência direta (ou quase) com a realidade.

De tudo, ainda resta o mesmo desejo de olhar nos olhos, sempre renovado. Uma experiência vivida a dois, duas individualidades separadas, juntas não por necessidade, juntas não enquanto incompletudes, mas enquanto duas totalidades. Juntas enquanto encontro natural de caminhos, infinito pelo tempo que tiver que durar.

Tuesday, April 11, 2006

Lembrança

Ainda não dividimos uma tarde de chuva
nem o tempo foi nosso amigo.
Mas eu te reconheci, a cada olhar,
na arte do seu soltar de cabelos,
em cada reflexo do seu corpo,
nos dias em que te vi, um tanto como menina,
um tanto como minha mulher.
Eu quis que, do instante, se multiplicassem dias.
Hoje, te enxergo em minha cama
quando olho de soslaio.
Continuo, sem perceber, à sua procura.

Monday, April 03, 2006

Gnose

Eu só conheço o que experimento.

Só há verdade na vivência.

O resto é teoria vazia, balela, pensamento que não se presta a nada.

E toda existência é triste. E eu tinha me esquecido disso.