Wednesday, October 11, 2006

Além do certo e do errado

Eu não quero fazer o certo. Também não quero fazer o errado. Eu quero viver a minha, independente desses dois conceitos, duas idéias externas, que por fim não dizem respeito ao que é a minha vida. Vivi a vida inteira meio que apegado à idéia de obrigação. Bem, foda-se a obrigação, quero dizer com força. Tudo que vira obrigação pra mim perde a graça e o prazer de fazer. Viva Krishna quando diz que a gente não tem que ligar pro resultado. Importa é o processo... uma vida de obrigações é feia e cansativa, repetitiva. De novo, viva o Baghavad Gita, quando diz: vive em contemplação e amor a Krishna... em vez de se estar apaixonado com algo específico, melhor se apaixonar com a totalidade. Amor fatti!!! Se o amor se direciona à totalidade, você perde o medo de perder, pois tudo vira ganho. Se a vida é vista como uma arte que se constrói, tudo, mas tudo mesmo, cabe nela. Um cuspe na cara da moralidade é o sorriso no rosto do condenado frente ao fuzilamento. Amor fatti. Amor ao destino. Que a vida seja portanto em rede: rede de felicidades e rede de dores, ganhar na perspectiva que o pequeno, o simples, o detalhe, é um quadradinho da colcha de retalhos aparentemente meio descombinada que é a vida. Eu quero olhar pra colcha de retalhos e ver um negócio meio brega, multicolorido, misturando Frank Sinatra com Jethro Tull e balinha de jujuba. Que a minha vida, por fim, seja algo que suspenda o ar de quem me olha, evocando qualquer coisa, um sorriso ou um grito, qualquer coisa menos a indiferença. Qualquer coisa menos o certo e o errado. Que a linha do meu tecer não seja a linha mais correta, a mais forte, a mais fraca ou a mais qualquer coisa. Que a linha que tece a minha colcha seja simplesmente a minha linha, tramado descompensado mas de vez em quando bem apaixonado com o grito do que é ser algo que nunca se definirá. A beleza é saber que nada está acabado, tudo existe em seu pleno inacabamento. Tudo e todos são plenos de por fazeres. Somos o eterno devir mesmo.... Eterno porque existimos além do tempo, da dualidade do certo e errado. Assim, paramos o tempo toda hora. Devir porque nada é constante e o próprio céu pode cair e virar um pedação de mar.

André C.

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