Eu vejo um menino, dentro do campo coberto de futebol de salão, correndo de um lado ao outro, de uma trave para a outra, com o peito pra frente e um sorriso enorme no rosto. O vento produzido pela própria velocidade e o poder de se estar sozinho e livre. Nesse momento perfeito, não há quem olhe ou julgue, o que existe é o menino, um menino que dá saudade de ser. Ah, como lembrar disso me traz algo que me embarga a garganta, que traz aos olhos aquelas lágrimas de quem, depois da dor, reencontrou algo perdido.
Num dia, aquele menino que corria tropeçou, e o gol não era rede, era de grade, e ele se feriu, sentiu dor e viu o sangue. Ele nunca mais tinha corrido, pois só lembrava da dor. Mas, muito maior que a dor, foi a sensação de correr. Ele não era nem de perto o mais rápido ou o mais atlético. Mas eu garanto que, naqueles momentos, que dia após dia se repetiram, ele era livre e feliz demais.
Ele voltou em sonho, na forma de um cavalo branco. Espírito do vento que corria também contra um gol, para acertar a cabeça. Mas ele, em forma de cavalo, não veio para me contar a dor. Veio para me falar da profunda experiência de se estar vivo, fazendo o que é de desejo, independente do conceito externo do que é certo ou errado. Ele corria para sentir o mundo.
Agora eu o vejo aqui do meu lado. Ele olha e sorri, orgulhoso, feito o Pedrinho das histórias do Monteiro Lobato. Um Peter Pan com canivete de escoteiro. Com os olhos brilhando constantemente, cantando a canção do universo e da celebração do mistério profundo do existir.
André C.
No comments:
Post a Comment